quinta-feira, 30 de junho de 2022

RHYE, Hard Club, Porto, 28 de Junho de 2022

Quatro anos depois, o canadiano Mike Milosh aka Rhye voltou ao Porto para, em definitivo, confirmar as virtudes das suas canções. Não que a passagem pelo Parque da Cidade tenha deixado dúvidas quanto à qualidade do produto sonoro, mas a amplitude, a luminosidade do espaço ao ar livre e a distância exagerada retiraram ao aconchego da sua música parte de uma sedução que só a proximidade, e de que maneira, acelera numa certa intimidade. No espaço do clube, a luz foi, por isso, quase sempre ténue de forma a diluir as figuras do septeto em palco desde que os instrumentos se fundissem sem imperfeições e onde, desta vez, um violino e um violoncelo se juntaram ao clássico quarteto de baixo, guitarra, teclas e bateria que em muitas ocasiões foram esticados num surpreendente volume finalizador de muitos dos temas balançantes ("Last Dance" ou "Taste", por exemplo). 

"Down or Up?". À pergunta de Milosh, já perto do final, sobrepôs-se uma amálgama de respostas que, mesmo assim, sugeria que a opção feminina pela onda calma iria prevalecer mas foi "Hunger" o escolhido para adiar mais um pouco a bela da frouxidão que já momentos antes, aquando de "Open", tinha permitido apagar na totalidade a luz da sala! Foi também às escuras que se anunciou a última canção entre delírios gritados alto e bom som ("Mikel, make love to me" não é nome de nenhuma canção). O suspiro chamou-se "Song For You" e resultou num libido truque energético rematado a capella a todo o fôlego orgíaco ou não fosse o seu perfume canoro um acelerador de bons momentos presentes, passados ou futuros...  

COMPLETAMENTE JOAN SHELLEY!

Aquilo que parece ser mais uma obra prima de Joan Shelley - o álbum "The Spur" saído há dias - não tem final possível já que é irresistível pressionar a sua repetição completa. (Não) termina assim de forma admirável...

WILCO, Noches del Botánico, Madrid, 27 de Junho de 2022

A primeira das noites esgotadas dos Wilco em Madrid tinha enquadramento e local perfeitos. No centenário jardim botânico da capital espanhola espalharam-se tiendas de cerveja, vinho, bocadillos e afilhados entre mesas, espreguiçadeiras e cadeiras à sombra das árvores calmamente ocupadas por público adulto entradote, notoriamente aficionado, conhecedor e orgulhoso no gosto pela banda americana que uma variedade de t-shirts antigas assinalava sem disfarce. Foi ainda sentados a acabar a caña, que do palco se fizeram ouvir os primeiros sons a sério de La Tremendita e era a então a boa hora para, sem pressas, rumar o mais à frente possível no recinto para uma cerimónia repetida mas de que não há maneira de evitar a ansiedade. À nossa volta, mesmo sem apertos ou empurrões, percebia-se que ela, a tal ânsia, não era só uma "doença" nossa... 

Dois longos anos sem digressões, sem concertos, sem partilhas reais foram penosos para os Wilco. Entre muitas das suas virtudes sobressai a capacidade de, aparentemente, fazer o que uma banda deve fazer - tocar canções sem truques ou virtualidades e esse regresso ao primado do rock teve em "A Shot in the Arm" um iniciante sinal quanto ao gosto cúmplice de ali estarem a fazer o que melhor sabem e gostam. Em duas horas, esqueceram-se as saudades, as distâncias ou as desculpas e fez-se da oportunidade uma travessia de mão dada a que uma amizade tão antiga obriga na confiança e conforto de um alinhamento preparado para o abraço fraterno. Sem falhas, sem rodeios, sem excessos, o que veio do lá de lá, do palco, foi infinitamente aprimorado pela excelência dos instrumentos, pela subtileza das vozes, pela qualidade da acústica e da amplificação. Do lá de cá, da plateia, a resposta confundiu-se, sem protocolos, nessa matéria viva de sons de uma vida, de muitas vidas, entoados como se fossem preces purificadoras indispensáveis à respiração. Exageros? 

Se o amor por uma banda não têm, nem pode ter, normas ou tabelas de equiparação medidas pela amplitude da gritaria ou da agitação, há nesta relação algo de imbatível e sobrenatural que atinge o pináculo quando "Impossible Germany" se começa a adivinhar. Desta vez, um endiabrado e recentemente curado (Covid19) Nels Cline pregou-nos a todos à parede da incredibilidade pela dose superlativa de riffs e deformações de um solo de guitarra inclassificável e sufocante que o brado posterior transformou em vénia e devaneio colectivo. Ufa... tanto podem ser temas do novo disco - e houve uma boa meia dúzia deles - como antiguidades com trinta anos com que acabaram a noite, que uma dádiva como esta não tem preço nem idade mesmo que cada vez maior e rabugenta. Música para velhos? Que seja, mas que os deuses da música os guardem e protejam por muitos e bons anos. Viva Wilco! Viva!

quarta-feira, 29 de junho de 2022

FAROL #145















No reduto virtual de sempre, oferecem-se duas excelentes versões seventies a cargo do groove de Neal Francis. Refrescante!

TORO Y MOI, VRUMM VRUMM!





















O álbum "Mahal" de Toro y Moi saído em Abril começa e acaba com barulhos de motores de carros enguiçados que demoram a pegar mas depois lá arrancam na perfeição. O efeito é quase o mesmo quanto às canções que é preciso testar muitas vezes até se entranharem num efeito soalheiro e descontraído com colaborações técnicas diversas de amigos como os Unknown Mortal Orchestra, Mattson 2 ou Salami Rose Joe Louis e uma aproximação visual colorida e kitch a um mundo exótico de veículos asiáticos... Os videos editados são, a esse nível, esclarecedores. 

Há agora, no entanto, uma curta-metragem que funciona como complemento imagético e humorístico do álbum chamada "Goes By So Fast". Dirigido por Harry Israelson, combina animação, ficção e imagens de actuações ao vivo onde Chazwick Bradley Bundick, Chaz Bear para os conhecidos, contracena ao lado do parceiro Eric André e a que vale a pena dar uma espreita. Vrumm, vrumm!



terça-feira, 21 de junho de 2022

DORA MORELENBAUM, Novo Ático, Porto, 19 de Junho de 2022

Para Dora Morelenbaum a linhagem familiar que remete para progenitores famosos - é fiha de Jaques e Paula Morelenbaum - é influência inevitável na carreira a solo que agora decidiu assumir e que a trouxe, em estreia nacional, a vários palcos do país. No Porto, onde terminou a digressão, as canções apresentadas não disfarçaram essa notória veia artística no refinado dedilhar do violão mas também num tom de voz que, não se distanciando de muitos outros, tem assinatura e marca suficiente para se distinguir e crescer. 

Mesmo que o renovado Novo Ático do Coliseu se afigure algo distante e asséptico no conforto, o espaço submerge pela qualidade e nitidez da acústica que fez elevar as canções de "Vento de Beirada", um primeiro EP editado em 2021 mas também de versões de Buarque ou popularizadas por Caetano Veloso que confirmaram, sem ser preciso, que a estirpe MPB está longe da extinção. A parceria com Tom Veloso, filho mais novo de outro clã, nos novos temas de um álbum prometido para breve e de que deu a ouvir "Dó a Dó", é só mais um natural cruzamento de ajudas amigas e generosas que têm no projecto Bala Desejo, de que foram apresentadas três canções, o exemplo perfeito de conexões antigas e cúmplices. Um orgulho para os pais ter assim tamanha Dora e os seus amigos...

SILVANA ESTRADA, Mercado 48, Porto, 18 de Junho 2022

O álbum "Marchita" da jovem cancionera mexicana Silvana Estrada parecer ser um daqueles fenómenos de consenso generalizado quanto ao seu efeito de sobressalto emotivo. Aprende-se, aos poucos, a entrar na intimidade das canções escritas de modo solitário em 2018 em casa dos pais e depois, timidamente, apresentadas aos amigos e familiares em ocasiões especiais como sugeriu ser a noite de sábado na loja cosy da Rua da Conceição. 

Só para alguns sortudos, a reunião funcionou como uma dessas primeiras descobertas e partilhas atendendo à proximidade quase caseira e informal do espaço e que teve o condão de reforçar a grandeza e fermento de um pulsar que transpira uma melancolia folk incandescente de tradição latino-americana. Pela imensidão da sua voz, cantou-se a saudade ou a tristeza, o amor ou o desamor, o carinho ou a repulsa como afagos agridoces que, disfarçados de delicadeza, estremeceram numa brandura colectiva a motivar fortes aplausos e muitos sorrisos de alegria e cumplicidade. Enquanto houver estrada para andar... 

segunda-feira, 20 de junho de 2022

MATOSINHOS EM JAZZ INGLÊS!














Depois de dois anos forçados de interrupção, o Festival Matosinhos em Jazz regressa em Julho ao coreto do Jardim Basílio Teles, junto do edifício da Câmara Municipal, a partir de dia 9 e prolonga-se até dia 30, sempre aos sábados e domingos e com acesso gratuito. Do programa, destaque para a embaixada de músicos e intérpretes ingleses de eleição como o pianista Alfa Mist (dia 16, sábado), a saxofonista Camilla George (dia 17, domingo) e o jovem Ashley Henry (dia 24, domingo), uma tradição que parece manter-se a gosto

Paralelamente, logo no início do mês e no mesmo local, ficará disponível uma exposição de obras dos artista André Tentúgal, Clara Não, Joana Linda, João Fazenda e Vasco Gargalo que conceberam, a pedido da organização, uma releitura de capas famosas de discos de jazz de Chet Baker, Charles Mingus, Nina Simone, Ornette Coleman ou Sonny Rollins. Programa completo aqui.



WILL SAMSON AO VIVO!





















O excelente álbum "Active Imagination" de Will Samson, preciosidade já por aqui recomendada, terá a devida apresentação ao vivo já no próximo mês de Julho em Vila Real, Porto (Maus Hábitos, dia 15) e Lisboa. A não perder!

sábado, 18 de junho de 2022

EU ESTIVE LÁ! NÓS TAMBÉM!





















A mania de guardar bilhetes de concertos mantêm-se activa nos nossos hábitos, agora extensiva a cartões e pulseiras plásticas ou de tecido de acesso a recintos e palcos, o que leva a evitar bilhetes digitais de leitura ótica no telemóvel. Claro que o interesse deixou de ser gráfico e artístico devido à uniformização da bilhética, o que retira todo o encanto a esses pedaços de história que decidimos, há muito, transformar em quatro posters decorativos que ainda estão pendurados numa parede de Mindelo e que dizem respeito a um período compreendido entre 1986 e 1999 (1 - 2 - 3 - 4). 

É com satisfação, mas também como boa surpresa, que deparamos agora com a notícia da publicação de um livro exclusivamente dedicado a bilhetes de concertos em Portugal nos últimos sessenta anos, uma tarefa coordenada e dirigida por Henrique Amaro com o título de "Eu Estive Lá!" (Tinta da China). Inserem-se textos de Luís Pinheiro de Almeida, Pedro Fradique, Isilda Sanches e Ana Cristina Ferrão, um para cada década, de 1960/70 a 2010/20, de forma a valorizar uma mania espalhada por "juntadores" um pouco por todo o país. 

A selecção incidiu num conjunto de 700 exemplares de variados universos musicais e tipologias (festivais, bandas e artistas em nome próprio), de momentos marcantes, como o primeiro concerto dos Sonic Youth em Portugal (Campo Pequeno, Lisboa, 1993), ou até de espectáculos que não chegaram a acontecer (Lou Reed, Porto, 1980). E podem ser tantas as histórias e memórias à volta de concertos... waiting in line to see Suede play!

 

quinta-feira, 16 de junho de 2022

COURTNEY MARIE ANDREWS, CONFIANÇA NO FUTURO!





















Para a nómada Courtney Marie Andrews o ano passado junto ao mar na Nova Inglaterra, apesar das nuvens negras, permitiu um genuíno pousio emocional a que ela própria chamou "the summer of self-love". Como memória simbólica, imaginou e pintou a capa de cima pertencente a um novo disco, uma versatilidade artística que já tinha florescido num livro de poemas biográfico e uma exposição inteira com os seus quadros. 

Neste "Loose Future", assim se chama a novidade a sair pela Fat Possum no início de Outubro, colaboram, entre outros, Josh Kaufman dos Bonny Lighthorseman, Chris Bear dos Grizzly Bear e Sam Owens aka Sam Evian que dividiu a produção do álbum nos Flying Cloud Studios de Nova Iorque. Apesar de tudo, confiança no futuro!

FAROL #144















Com um novo e excelente álbum "Inside Problem" na manga, Andrew Bird repete a dádiva no âmbito da clássica The Lagniappe Session com duas versões impressivas - "Call It Dreaming" de Iron & Wine e "This Must Be The Place" dos Talking Heads. Justificações e bombons aqui...

quarta-feira, 15 de junho de 2022

DESTROYER NO THEATRO!














Depois de cancelados os concertos dos Destroyer previstos para 2020, foi com alguma estranheza que reparamos, já no mês passado, na programação trimestral do MusicBox lisboeta que incluía um espectáculo, precisamente, dos Destroyer agendado para o próximo dia 5 de Julho sem qualquer referência na agenda do artista Dan Bejar. Hoje ficou a saber-se que também haverá concerto em Braga na véspera, 4 de Julho, segunda-feira, na sala principal do Theatro Circo (bilhetes à venda). 

Continua ser estranho, na mesma, a ausência de qualquer menção a esta parelha de espectáculos nacionais nas redes sociais ou outras plataformas da banda, restando a dúvida se a apresentação é a solo ou com banda. A oportunidade servirá para apresentar o mais recente álbum "Labyrinthithis", saído em Maio, onde está esta pedrada...

DRY CLEANING, NOVO SINGLE!





















Os britânicos Dry Cleaning, os reis do Primavera Sound Porto, têm novo single - "Don't Press Me" terá, previsivelmente, edição em 7" de vinil pela 4AD mas conta já com video realizado pelo especialista Peter Millard.

terça-feira, 14 de junho de 2022

DRY CLEANING+HELADO NEGRO+KHRUANGBIN+JAWBOX+INTERPOL+SQUID+GORILLAZ, Primavera Sound Porto, 11 de Junho 2022

















Em plena revista e nervoso controlo de entrada, soaram os primeiros sons e acordes dos Dry Cleaning no recinto próximo. Como muitos, demos connosco a correr afogueados até conseguir furar a multidão, ainda espaçada, até o mais perto do palco. 

Agora sim, respirando fundo, já era possível começar a sorver o momento que se afigurava intenso atendendo a que, à nossa frente, estava a banda com o melhor disco do ano passado. Logo se percebeu que não estávamos sós no julgamento - ao fim de algumas canções, a longa ovação quase fazia corar de orgulho uma Florence Shaw emocionada na sua alvura e, talvez, surpreendida com a recepção calorosa ao concerto que contemplou, logo à frente, uma homenagem a Paula Rego com o tema "More Big Birds". Se pensarmos que os Cleaning tiveram dois anos para crescer na medida certa e no público certo até à estreia no Porto, uma boa parte pertencente a uma geração saudosa de alguma da rugosidade indie dos anos oitenta, não espanta o entusiasmo obtido. Para esse feito valeu o fulgor técnico do guitarrista Tom Dowse, endiabrado na postura e na interacção e, ele próprio, a encarnação de um projecto cuja pujança está ainda longe do limite. Os maiores!            


O equatoriano Roberto Carlos Lange aka Helado Negro é um figura peculiar. Pequeno em altura, farto na cabeleira mas grande nas canções que trouxe ao palco principal do parque para "chilar" o final de tarde em formato descontraído e sedutor. Logo a abrir, um "Gemini and Lio" fresquinho e dançável deu o mote para quarenta e cinco minutos de sunset efectivo, momento saboroso de celebração merecida, de partilha sincera e sem quaisquer corantes. É fruta ou chocolate! 
    

Culminando a melhor trilogia seguida de concertos em muitos anos de Primavera Sound, os Khruangbin rapidamente conquistaram a adesão do público a um exotismo texano que mistura soul, rock psicadélico e muito groove disco-funk à custa do baixo de Laura Lee. Claro que os impressionantes dotes do guitarrista Mark Speer constituem parte substancial da sedução de uma sonoridade que, de tão antiga e renovada, se torna irresistivelmente moderna e até humorística e bem disposta como a sucessão de solos de trechos famoso de filmes, de clássicos rock-fm ou de populares êxitos modernos. Só faltou mesmo um pouco de Mark Knopfler e dos seus Dire Straits... Haja alegria!


Apostamos nos Jawbox como distracção prévia a um desastre que se aproximava. Os norte-americanos, reunidos recentemente depois de anos de separação que custou o quase esquecimento e que levou à partida de alguns dos fundadores, apresentaram-se em forma embora o rock dito alternativo que praticam se assemelhe a muitos outros de maior calibre. Foi, por isso, muito pouca a vontade de os ouvir e, masoquistas, rumamos ao palco principal.


Os Interpol morreram mas não sabem. Quando em 2015 andamos à sua procura no mesmo sítio, fizemos notar a boa cepa da maioria das canções reunidas em discos de excelência que ao vivo se esfumam como um fósforo. Ali, sentados na relva a ouvir resquícios fúnebres dos seus temas, ainda lembramos a última passagem de 2019 onde, milagre, se augurava um leve renascimento em cima do palco mas que, afinal, foi só um suspiro. Não queremos saber de quem é a culpa, se o Paul Banks não sabe cantar e tocar guitarra ao mesmo tempo, se só tocar guitarra e até só cantar ou se a química de entrosamento resvalou para egocentrismos cegos. A autópsia, contudo, será melhor que permaneça inconclusiva. Ámen!        

Os Squid são mais um caso sério da música inglesa ao lado de uma irmandade onde se juntam, só para citar alguns, os Black Midi, os Dry Cleaning, os Caroline ou os Drahla. Na boa meia hora em que os acompanhamos, a força motriz assinalável que transmitiram tendia a aumentar em potência mas, seguindo o conselho do principal vocalista e baterista Olie Judge, o super-grupo de Damon Albarn merecia ser visto e ouvido...      


Foi ao som de "19-2000" que descemos a colina enquanto delineávamos uma estratégia para tentar furar a multidão compacta até ao final do plano inclinado, local perfeito para pairar sobre os Gorillaz. Até o conseguirmos, descendo na lateral direita, fomos constatando uma mistura de gerações surpreendente, uma alegria nos rostos e uma animação que já não presenciávamos desde a passagem dos Blur em 2013 pelo mesmo local. Seria coincidência? Nahh... quando lá conseguimos estacionar, a custo, entre uns pais com os filhos às cavalitas e um grupo de jovens camones simpáticos, o delírio começava a instalar-se aos primeiros acordes de cada canção-êxito, a cada entrada e saída dos convidados, maluqueira dançante particularmente efusiva em "Désolé" com Fatoumata Diwana e "Feel Good Inc," com Pos. dos De La Soul. Tamanha gritaria e balanço de felicidade, mesmo com aquele estranho apagão sonoro no final e com muito cansaço disfarçado, foi dos melhores momentos de um festival cada vez mais rarefeito de espontaneidade e alegria sincera. Até para o ano (sem certezas)!   
P         

segunda-feira, 13 de junho de 2022

MONTANHAS AZUIS+BEACH BUNNY+RINA SAWAYAMA+SHELLAC+KING KRULE+BECK+ROLLING BLACKOUTS COASTAL FEVER+ARNALDO ANTUNES+PAVEMENT, Primavera Sound Porto, 10 de Junho de 2022

















Comparando o desconforto inconcebível da véspera, o início do dia de sexta-feira assemelhava-se a um paraíso... tropical! Brisa fresca, acesso rápido a cerveja e derivados e o colectivo português Montanhas Azuis caído do céu para conceber o fundo sonoro de tão inesperado momento. Bruno Pernadas e Norberto Lobo, ao lado de mais três parceiros de experiência, fizeram ecoar um género de pastiche electrónico vintage - um sortido de ZX Spectrum avariado como notou um amigo destas andanças - que se embrenhou nos poucos que, ao sol, foram relaxando na relva ou se juntaram junto ao palco para saborear melhor tamanha aragem de amenidade. Flutuante!    


Apesar da repetição do palco, das condições climatéricas e do horário aproximado, a americana Lili Trifilio aka Beach Bunny não foi tão eficaz como Stellla Donnelly na véspera. Bem tentou, logo no início, um golpe de interactividade e descontracção aquando do arranque de "6 Weeks", tema que lhe granjeou alguma fama inocente e ignição artística para maiores voos, mas o concerto planou num simples bocejar entretido. O baixista cromo a la Dee Dee Ramone também não ajudou em nada.  


And now para algo completamente... A curiosidade matou o gato e, cumprindo o ditado, estacamos quase na frente do palco para uma tal de Rina Sawayama a motivar gritaria mesmo antes da entrada. Quando, dengosa, se arrastou para o palco já depois de um guitarrista e um baterista terem ocupado o lugar, começou uma contenda de trejeitos empinados, respostas em coro, coreografias provocadoras de bailarinas atléticas e demasiada adulação LGBT. As canções, essas, vamos ter que as ouvir muitas vezes para conseguir sequer as reconhecermos, o que talvez se afigure mais fácil seguindo o rasto de qualidade dos riffs e solos da guitarrista de serviço (a sério). Estamos velhos e acabados!        


Haverá sempre uma janela, uma porta ou uma fresta de oportunidade para uma dezena de minutos com os Shellac. Tradição antiga e dever cumprido, confirmou-se a boa forma do trio de Chicago ao fim de trinta anos de actividade milagrosa de manter, como convêm, o rock infinito e barulhento. 


Talvez um dos recintos arborizados fosse o local preferido para receber condignamente King Krule e o resto da rapaziada mas atendendo ao magote de pessoas que ocupavam a totalidade das cadeiras (sim, há lugares sentados) e do piso cimentado, a opção mostrou-se certeira. Contudo, não foi um Archy Marchall entusiasmado o que compareceu perante a multidão expectante apesar de várias estreias de canções inéditas e da bondade dos aficionados. Faltou parte daquela guelra provocadora oxigenada de raiva que lhe granjeou fama (ao que parece, Archy deu um pequeno ar da sua graça no Ferro Bar da Invicta na madrugada anterior) mas o concerto acabou por se traduzir num desempenho competente e até com direito a encore inesperado. Viva o Rei Krule!


O que Beck queria adivinhava-se de imediato - festa! Da nossa parte, o arrebatamento esvaziou-se num ápice perante o rolo compressor de temas engatados num género de cassete de versões electrónicas de Beck a cargo de... Beck. Uns acharam, certamente, divertido e porreiro, pá. Nós desistimos ao fim de dez canções em vinte minutos. O livro do Guiness deveria ter, por isso, uma nova anotação.  


Animação bem diferente, mas genuína, serviram os Rolling Blackouts Coastal Fever na escuridão do melhor palco do recinto. O colectivo australiano de guitarras ao alto não se fez rogado e, sem pedir licença, rodou uma dezena de canções de prego a fundo de forma irrepreensível, jogando com o pouco tempo disponível para nos convencer - e não foram poucos - que uma audível e brincalhona guitarra acústica continua a dar-se bem no meio das irmãs eléctricas. É preciso é saber fazê-lo, tradição que o rock parece ter perdido mas que os RBCF insistem em manter e preservar. Uma raridade, melhor, uma preciosidade!    


A presença de Arnaldo Antunes no alinhamento híbrido do festival sugeria, confessamos, alguma estranheza. Nome incontornável da música pop brasileira que os Tribalistas fizeram universal, a diversidade de abordagens ao legado da MPB ou do samba traduziu-se, ao vivo, numa variedade de estilos e épocas cunhadas de forma própria com doses de lirismo e balanço estimulantes. Não admira que o recinto, mesmo que pululado de estrangeiros animados, se tenha transformado em bailarico ao ar livre, !


O que dizer dos Pavement? Que o legado imenso dos seus discos estava perdido? Que Malkmus é um génio injustiçado? Em presença da totalidade da banda mítica da Califórnia, as respostas são de óbvia anuência e que o seu regresso em boa hora aconteceu. Bastou reparar na proliferação de americanos que viajaram até ao Porto na expectativa de ali estarem a cantar a totalidade das canções sem falhas nas líricas, uma satisfação que se espa(e)lhava em quase todos os rostos dos que nos rodearam numa das laterais junto ao palco. De lá emitiram-se, sem mácula, vinte e dois temas de um songbook assinalável a que um carismático e bem disposto Malkmus juntou uma voz histórica. As palavras "Danger Plan" escritas num dos seus amplificadores é só mais uma peça de um gozo artístico com que todos fomos, em boa hora, abençoados.
            

sábado, 11 de junho de 2022

PENELOPE ISLES+DIIV+STELLA DONNELLY+KIM GORDON+NICK CAVE+BLACK MIDI+MURA MASA+TAME IMPALA, Primavera Sound Porto, 9 de Junho de 2022














Ao fim de dois anos de interrupção, o festival da cidade regressou ao local habitual, parque de excelência agora finalizado na ligação marítima a obrigar a alterações logísticas no acesso principal e na organização da zona de alimentação e do palco no cimento (Cupra). A fluidez dos percursos e dos atendimentos cedo foram postos em causa pela notória multidão já em circulação e com a previsão de um caos de difícil controlo.

O ajuntamento foi logo notório no palco arborizado (Binance) para receber os Penelope Isles dos irmãos Lilly e Jack Wolter, quarteto britânico que ali estreou ao vivo a inédita contribuição de uma violinista. A recepção a uma sonoridade melodiosa de pop areado foi condizente, abençoada por muito sol, calor e bebidas frescas mas havia uma promessa para cumprir do outro lado do recinto...

 

Os Diiv surgiram há mais de uma década e o álbum de estreia "Oshin" de 2012 cedo motivou elogios e adoração. Desde aí, não foi possível concretizar comparências em apresentações ao vivo que a pandemia adiou irremediavelmente mas a aspiração teve, finalmente, materialização. A enchente surpreendeu o próprio Zachary Cole Smith e o resto da banda que, não se fazendo rogada perante a ocasião, fortaleceu ainda mais o mito com um concerto eficaz e comemorativo do disco referido de onde saltaram os temas mais aplaudidos. O incontornável "Blankenship" do último "Deceiver" serviu para, no final, selar em definitivo a aliança decana e duradoira!


Para a australiana Stella Donnelly, mesmo na condição de substituta de Japanese Breakfest, a dimensão do palco principal não foi motivo de susto. Divertida e descontraída, agarrou pela animação alguma da atenção dos muitos presentes com temas orelhudos entre coreografias de dança, coros a meias e versões inesperadas como a de "Love Is In the Air" do conterrâneo John Paul Young. Boa surpresa!      


A senhora Kim Gordon não parece envelhecer. Fibra sónica de calibre firme é a receita de uma longevidade activa que se associa a um experimentalismo obrigatório de respiração possante. Se lhe juntarmos um charme feminino que enche qualquer palco a qualquer hora, a grandeza do momento mediu-se sempre em alto e consistente nível.      


Não temos dúvidas quanto à magnificência de Nick Cave. Os últimos tempos de uma atormentada vida familiar foram sempre superados por novos discos e novos projectos ao lado da outra família, a profissional Bad Seeds, que o eleva ao vivo à categoria de deus humano. Não sabemos se foi de ter ido molhar os pés ao Senhor da Pedra ou do almoço em Miramar, a terceira passagem pelo Parque da Cidade desde 2013 pareceu-nos a menos consistente, nada que embacie a imbatível capacidade de hipnotizar a multidão pela proximidade e interacção com as filas da frente intervalada por momentos ao piano de beleza descarnada. Mas quando "Red Right End" finou, estava na hora de cometer um sacrilégio e trepar a colina para alcançar um outro cume que se antecipava luminoso...        


Os Black Midi, alguém vaticinou há meia dúzia de anos atrás, vão ser grandes. À previsão mais que confirmada em dois/quase três discos de originais só faltava o concerto ao vivo e o momento certo. No escuro e até aconchego do arvoredo, recolhiam-se muitos que preferiram um murro no estômago bem mais forte e saboroso mesmo que sem a presença de um saxofonista que, também nos avisaram, se faria notar. O colectivo londrino arrasou a audiência sem contemplações num desconstrucionismo rock de tormentoso teor que preencheu medidas e transbordou de potência. Imenso!  


Entre deambulações pelos palcos activos e goles em cerveja morna, paramos na frente de um deles para acompanhar uma dança colectiva picada pelo que saía da amplificação e pela agitação em cima do estrado. Chamam-se Mura Masa, só agora o sabemos, e partiram muita loiça pela vibração electro-soul rodada de um trio de vocalistas e do comandante Alex Crossan nos samples e bateria. Valeu!  


O que Kevin Parker criou em 2007 na natalícia Perth australiana transformou-se num monstro chamado Tame Impala que não parou mais de crescer. Não sabemos quando é que a dimensão do fenómeno vai sequer começar a minguar mas, atendendo ao final de noite do primeiro dia do festival, esses tempos parecem afastados em definitivo. A "besta" tem um aspecto visual de camuflagem espectacular que quase nos distrai da qualidade dos hinos, uns a seguir aos outros, mas que nem as luzes, os lasers ou os efeitos estróbicos conseguem abafar. Podemos até questionar se essa envolvente cenográfica é um exagero inútil, o que não é verdade, mas foram mesmo as canções tocadas por uma corporação escondida pela cortina luminosa que produziu a fórmula do principal efeito energético, isto é, diversão + comunhão = festa!      

quinta-feira, 9 de junho de 2022

CASS McCOMBS, MENTE BRILHANTE!





















Depois de um activo envolvimento político e de um período de pausa nas digressões por imposição pandémica, Cass McCombs despertou admiradores e aficionados em Abril passado com o novo "Belong to Heaven", inédito que recebeu a ajuda de Danielle Haim, uma das Haim sisters, nas vozes e na bateria e que servia de homenagem a um amigo falecido. Junta-se agora "Unproud Warrior", uma outra canção nova com video a cargo do colectivo Facing West Shadows com sede na Bay Area californiana onde promove uma incisiva acção artística a partir da experimentação, tema onde colaboram as Chapin Sisters. 

Esta excelente e brilhante dupla de canções faz parte do álbum "Heartmind" a editar pela Anti-Records em Agosto, longa duração registado entre Brooklyn, Nova Iorque, e Burbank, Califórnia, com a ajuda na produção de Shahzad Ismaily, Buddy Ross e Ariel Rechtshaid que repete a colaboração. Marcada para Outubro está uma digressão britânica que se espera alcance outros destinos...


UAUU #646

quarta-feira, 8 de junho de 2022

STEVE GUNN NO CURTAS!





















A trigésima edição do Festival Curtas de Vila do Conde, que se realiza entre 9 e 17 de Julho, mantêm na sua secção Stereo um excelente encontro entre música e cinema através dos incontornáveis filmes-concerto. Na programação deste ano destaca-se a presença do americano Steve Gunn e da sua guitarra que acompanharão a projecção do filme "Visions in Meditation 1 - 4” do realizador Stan Brakhage (1933-2003), conhecido pelo experimentalismo artístico das suas obras. 

O concerto terá lugar dia 16 de Julho, sábado, um pouco antes da meia-noite e faz parte da digressão a solo do músico pela Europa que inclui, na véspera, uma passagem pela ZBD lisboeta. Já há bilhetes.

FAZ HOJE (20) ANOS #77





















COURTNEY PINE + THE CINEMATIC ORCHESTRA, Festival 10 de Junho, Parque da Canção, Coimbra, 8 de Junho de 2002 
. Jornal de Notícias, por Américo Sarmento e Nuno Loureiro, 12 de Junho de 2002, p. 35


DUETOS IMPROVÁVEIS #259

WILCO & DAVID BYRNE 
California Stars (Tweedy) 
Solid State Festival, MASS MoCA. 
North Adams, Massachusetts, E.U.A., 29 de Maio de 2022

terça-feira, 7 de junho de 2022

THE MOUNTAIN GOATS, SANGRIA FRESCA!





















A prolífica actividade dos The Mountain Goats culminou no vigésimo álbum de originais editado o ano passado com o título de "Dark In Here". Mas John Darnielle não se acomoda e em dois meses de final de 2020 e início de 2021 juntou às escondidas e em plena pandemia a banda nos estúdios Betty’s de Chapel Hill na Carolina do Norte para um novo registo inspirado nos filmes, tantos, de acção dos anos 60, 70 e 80 a que chamou "Bleed Out". 

Ou seja, criminosos, polícias, assaltos, reféns, carros acelerados e travões a fundo para que a excelente capa de John de Lucca remete de imediato na nostalgia. Dia 19 de Agosto ficaremos a conhecer o total do enredo cinemático via Merge Records.  

segunda-feira, 6 de junho de 2022

FRANK SINATRA DE ELEIÇÃO!















Data de 2012 uma dica amiga sobre um disco esquecido de Frank Sinatra chamado "Watertown". De imediato confirmada a veracidade da sugestão, tratamos logo de encontrar o vinil de época em edições estrangeiras já que, sem confirmação, não houve publicação em Portugal de tamanha preciosidade mesmo que bastante desprezada na época. 

Nas suas dez canções originais, o álbum editado em 1970 é um trabalho conceptual de mudança radical na direcção artística de um Sinatra cinquentão e extravagante em assumir compositores contemporâneos como os The Beatles ou Paul Simon ou, no caso, Bob Gaudio e Jake Holmes, os autores do enredo e das composições de um projecto narrativo sobre um homem abandonado pela esposa e que se dedica à educação dos filhos numa pequena cidade que dá nome ao disco situada na América rural e, dita, normal. Daqui resulta uma ternura crua cantada como só Sinatra sabia fazer mas envolta de uma vulnerabilidade inesperada e ostentada da voz que algumas reedições posteriores têm destapado maravilhosamente. 

Há agora mais uma revisão promovida pela UMG que retoma as fitas primárias da Reprise Records de forma estranha mesmo para aficionados, como nós, que já ouviram o disco centenas de vezes e que faz das orquestrações de Don Costa ora uma obra cristalina e imortal de bom gosto e prazer, ora um opaco e incorrigível atentado às sonoridades e misturas originais. O tema "Lady Day", supostamente sobre Billie Holiday e que, não fazendo parte do alinhamento, foi acrescentado à primeira reedição de 1994, têm agora a companhia de mais alguns takes das sessões de gravação e de dois promos comerciais que anunciavam a ousadia mas não previam, obviamente, o flop. O tempo haveria de corrigir o descuido e este passou a ser um dos nossos discos de eleição que começa e acaba assim....


domingo, 5 de junho de 2022

THE WEATHER STATION, M.Ou.Co., Porto, 2 de Junho de 2022

"Bem-vindos à escuridão...". Foi assim que Tamara Lindeman aka The Weather Station se apresentou, já ao piano e depois de um primeiro tema de joelho no chão no centro do palco, perante uma plateia de indisfarçáveis conhecedores que sabiam ao que iam - uma imensidão de canções tristes de um mundo muito próprio que ganhou no último álbum "Ignorance" um projecção merecida e unânime. Aí se notam, em definitivo, algumas das qualidades e teimosias em fazer da composição um ponto de partida multiplicador de recursos orquestrais que (pre)enchem o disco de uma eloquência sonora brilhante. 

Com a ajuda de Macie Stewart, multi-instrumentista de Chicago, o concerto ficou despido dessa grandeza para se envolver numa outra, talvez mais sonhadora e simples, mas de efectiva beleza e comunhão. Ouvir "Robber" ou "Parking Lot", por exemplo, sem esse fardo de sofisticação só activou ainda mais os sentidos para a poética subtil das líricas e de um aveludado da voz de notável distinção. As histórias e confissões contadas antes de muitas das canções funcionaram com um género de prefácio de auto-relaxamento colectivo, servindo para libertar a respiração e preparar a concentração para cada um dos dezasseis capítulos de um alinhamento que culminou em "Traveler", uma pérola do disco de 2011 que arriscou sozinha à guitarra como despedida inesperada. 

Uma verdadeira lição de classe e que se aconselha na insistência útil de ouvir os seus álbuns como método de ensino para continuar, maravilhosamente, olhar para as estrelas... às escuras!

sábado, 4 de junho de 2022

(NOVAS) BALADAS DE TIM BERNARDES!





















Cinco anos depois de "Recomeçar" e de um álbum com a sua banda O Terno, Tim Bernardes tem disco novo a solo a sair já este mês. Em "Mil Coisas Invisíveis", façanha de quinze canções de que três são já conhecidas, incide uma contínua mania de composição em digressões e viagens mas a chegada da pandemia permitiu maior concentração nessas primeiras demos de forma a acertar, em definitivo, os registos feitos entre casa e o estúdio Canoa de São Paulo. Um deles chama-se, curiosamente, "A Balada de Tim Bernardes"... 

Para um teste importante ao vivo está agendada um digressão pela costa Oeste Americana já a partir do final do mês na primeira parte dos amigos Fleet Foxes.



quinta-feira, 2 de junho de 2022

HEATHER WOODS BRODERICK, AMBIENTES!















Há na polivalência de Heather Woods Broderick uma rareza que tanto pode percorrer um piano, uma guitarra ou um violoncelo. Foi deste último que se serviu para uma primeira aventura instrumental chamada "Domes", sete peças atmosféricas ou ambientais que aproveitam os altos e baixos emitidos pelas suas cordas em sobreposição, repetição e densidade, prática que serviu para começar e acabar os dias nos últimos dois anos como forma de alheamento a algum caos e turbulência. 

Este ciclo de ensaios e tentativas aguçou a curiosidade da artista mas também multiplicou a calma e alívios inspiradores da descoberta e prazer no retorno a um instrumento que, brotando do esquecimento, reocupou um lugar fundamental na sua aprendizagem e percurso. Experiências fortes que pretendem ser uma extensão sem voz de um diapasão emotivo e meditativo. Surpreendente e necessário!