de Alessandro Melazzini. Alemanha; RAIcom, Arte; BR Bayerischer Rundfunk, 2021. Canal Arte, 27 de Julho de 2022
O simples facto de um documentário sobre o fenómeno Italo Disco ter surgido o ano passado talvez não seja uma coincidência. Passados trinta anos, alguns dos anticorpos como que se diluíram na consciência de uma geração - a nossa - que sempre lhe virou costas e, principalmente, os ouvidos para passarmos a "achar piada" a, cruzes, esse "tipo" de música. Lixo ou inovação, como é bem lembrado no documento, o fenómeno criou a partir de Itália êxitos a cargo dos Rigueira, Ryan Paris, Gazebo ou La Bionda que rapidamente chegaram mais a norte, principalmente, à Alemanha e países nórdicos e, depois, ao resto do velho continente.
Um desses inovadores sempre teve o nosso respeito, se bem que o emigrante Giorgio Moroder nos pareça um talento bem mais elevado e prodigioso, mas seria quase pecado não inclui-lo neste retrato de uma época de inocência aparente mas, rapidamente, multiplicadora de negócios. Transparece, à maneira latina, um desenrascanço amador na exploração exagerada de sintetizadores e efeitos, talvez aquilo que agora acaba por ter a "tal" piada que, na altura, fazia crescer imediata urticária e que se aproveita para associar a adeptos contemporâneos como os Daft Punk ou os Chemical Brothers.
Surpreendem alguns nomes e artistas perfeitamente desconhecidos - The Flirts p.ex. - de biografia e carreira ocasional mas destapam-se caras e feições dos verdadeiros inventores, aqueles que nos estúdios ou com um sintetizador à frente imaginaram a receita invasora das pistas de dança, nem que para isso fosse necessário o playback falseado do cantor versus quem aparecia na televisão a cores ou na capa de uma revista.
Agora a tudo isto podemos chamar kitch, mas aquilo que sugeria ser de uma superficialidade desprezível, ganha nesta abordagem histórica uma dimensão revolucionária na maneira de fazer música e, acima de tudo, de a desfrutar pela dança que a icónica Sabrina, a verdadeira rainha do fenómeno, acelerou na libertação de dogmas, estigmas ou convenções. Mesmo mantendo ainda uma leve desconfiança, sempre que agora soar um "vamos a la playa oh, oh, oh, oh, oh" numa qualquer esplanada ou convívio nocturno vamos ter que gritar "pôe mais alto"... e não desliga!
No Canal Arte online até dia 11 de Setembro.