sábado, 31 de dezembro de 2022
sexta-feira, 30 de dezembro de 2022
(RE)VISTO #105
de Rob Gordon Bralver. EUA; Littel Walnut/Greenwich Entert., 2021
Tv Cine Edition, Portugal, 20 de Dezembro de 2022
O senhor Richard Melville Hall, americano do Harlem com a bonita idade de cinquenta e sete anos, tornou-se conhecido como Moby. A fama, mesmo que somente sonhada e suspirada, acabou por transformar a sua vida que decidiu começar a contar em livro com "Porcelain: A Memoir" de 2016 e a que acrescentou "Then It Fell Apart", um outro complemento biográfico de 2019. Fazer um filme sobre essa viagem pessoal talvez fosse dispensável, mas Moby reavaliou a extravagância e, qual terapia, lançou-se na aventura. Porquê?
A pergunta, colocado pelo próprio logo a abrir o documentário, tem um resposta - fazer o que nunca foi feito, ou seja, ser o próprio a comandar a narração e a decidir o que contar, que os livros referidos já previamente tinham destapado, mas uma tarefa desafiante e motivacional no imaginar, escolher e preparar das imagens certas. A esse nível, estamos perante uma abordagem arriscada, inovadora até, mas que atinge em certos momentos um patamar de surrealismo propositado pela realização partilhada. A recreação de cenas infantis com personagens amigos e adultos é uma dessas estranhas formas de aliviar o azedume de uma infância problemática em que até o suicídio do pai é reconstituído em desenho animado! A estranheza da opção é só a primeira de muitas sequências quase anárquicas sobre a ascensão, refúgio e primazia da música numa juventude entediante e que o amor pelos animais ajudou na multiplicação e valorização.
A cronologia dos factos, apesar de lógica, vai-se misturando, entre outras, com imagens ora de um concerto acústico e orquestral ora de consultas simuladas com uma terapeuta e que servem para intercalar fases de crescimento de um "monstro" que, surpreendentemente, são construídas com imagens originais da época para ilustrar a descoberta do punk-rock, a saída de casa para habitar numa fábrica abandonada ou as primeiras investidas naif na electrónica e no house que então germinava. É, então, um Moby ainda com cabelo mas que uma remistura ocasional para o original "Go" haveria de transformar num dos mais célebres carecas do mundo da música - fã de "Twin Peaks", juntou nessa remix alguns acordes do tema que Angelo Badalamenti compôs para a série e o mundo, o seu com fixação no Connecticut, mudou de um dia para o outro.
Rapou o cabelo e começou então o ambicionado estrelato como dj, raver ou agitador que a Europa recebeu de braços abertos. A dependência de drogas e álcool propaga-se pelas companhias (in)desejadas em contínuas desbundas mas o êxito de posteriores discos em nome próprio e de digressões com recintos cheios haveriam de ajudar a manter descontroladamente. Não faltava muito para um primeiro "bater no fundo" e o filme, sem contemplações, faz vinco visual da desgraça culminada com a morte da mãe a cujo funeral, perdido e adormecido, não compareceu. O momento é, outra vez, narrado em desenho a preto e branco! O descalabro, acelerado pelo álbum punk-rock "Animals Rights" de 1996, haveria de ser disfarçado em cima dos palcos ao lado dos Red Hot Chilli Peppers ou The Flaming Lips e será desta altura (1998) a vinda ao Porto para o Imperial Ao Vivo nas Antas. O concerto, do que recordamos, esteve bem longe da perfeição. Percebemos porquê.
Faltava um milagre artístico. Todos lhe conhecemos o nome gravado no cd que muitos ouvimos em demasia no ano seguinte - "Play" motivaria fama incontrolada e amizades inesperadas e reforçadas com David Bowie ou David Lynch, ele próprio com testemunhos laudatórios exclusivos para o documento. De novo, o narcisismo, mesmo que disfarçado, deitou tudo a perder apesar da fortuna e da loucura colectiva que prestes afunilou Moby a um suicídio que só a pouca abertura do vidro de um elevado quarto de hotel espanhol impediu na concretização. Era o segundo e perigoso "bater no fundo" mas desde aí, ano de 2008, o desastre foi imobilizado a tempo.
A parte final do filme, algo estranha e ineficaz naquele falar ao telemóvel a contar pormenores da tragédia passada, encima um Moby renascido, ativista empenhado dos direitos dos animais e do vegetarianismo mas nunca desistente da música e dos concertos, prática salutar que o trouxe em forma e limpo ao Porto logo em 2009. Música e animais, uma dupla tábua de salvação que desde a infância sempre foi o refúgio certeiro e que continua, resiliente, a fomentar e promover e só é pena que o documentário se perca em exageros visuais para o robustecer. Não há vidas perfeitas, a tal "Perfect Life" que canta ao lado de Wayne Coyne mesmo a acabar, mas que não disfarça um trago inexplicável de desapontamento de um filme questionável e algo defeituoso... um leve Moby Flop!
VILA REAL, JOVENS AO PIANO!
A dinamarquesa Ea Wim é uma jovem compositora, instrumentista e cantora neoclássica que editou em 2021 "Bevægende Stilstand", álbum de atmosferas de melancolia ou euforia contrastantes e o espelho de sentimentos diferenciados que a vida lhe tem proporcionado. Wim será acompanhada ao vivo por Caroline Gammeltoft-Hansen na viola de arco, num concerto marcado para dia 20 de Janeiro, sexta-feira, no pequeno auditório do teatro.
No dia seguinte, sábado, 21 de Janeiro, no mesmo local, será a vez da multifacetada artista e arquitecta turca Büşra Kayikçi apresentar uma selecção de composições ao piano de inspiração contemporânea que fazem parte do disco "Eskizler" lançado em 2019. Entretanto, gravou já o single "Bring The Light" na mítica Deutsche Grammophon alemã e prepara-se para lançar um outro álbum em 2023.
Os bilhetes para os dois concertos podem ser adquiridos aqui.
quinta-feira, 29 de dezembro de 2022
PELÉ (1940-2022)
Bem que temos procurado sem sucesso o disco para a nossa colecção mas não vamos desistir porque nunca mais esquecemos o fascínio de o escutar vezes sem conta a olhar para o salto de punho erguido da capa. Pelé parece que só marcou, afinal, 757 golos mas o amor pelo futebol e pela "Leonor" fez dele um mito incontável e infindável. O eterno nº 10 faleceu hoje aos oitenta e dois anos. Paz!
(RE)LIDO #109
de Carlos Tê. Lisboa; Porto Editora, 2022
E ao fim de vinte e três anos Carlos Tê editou um segundo romance há muito esperado. Não surpreende esta demora de alguém que faz do dia a dia citadino um género de thesauros memorizado e assimilado na escrita com entradas organizadas por Bairro do Falcão, Vila D'Este, Jardim da Corujeira ou VCI. O Porto continua a ser o território principal de uma realidade próxima, talvez situada quando Maradona era o melhor jogador do mundo mas as referências futebolísticas estende-se a outros jogadores míticos um pouco mais antigos como o escocês Archibald que deu nas vistas nos anos oitenta ao serviço do Tottenham londrino e que inspirou o alter ego do personagem principal, acabando por dar nome ao livro.
Ele é Francisco Frade, um assistente social que se movimenta no resgate e apoio a situações difíceis em bairros problemáticos, ruas dissuasoras ou ruínas industriais, uma profissão de risco mas de reconhecido mérito e para a qual se rodeia e complementa com outros colegas e cúmplices quase amigos na partilha de cafés, restaurantes e bares ou em alusões a Gentle Giant ou Nusrat Fateh Ali Khan. Alguns deles são mulheres, parte substancial do enredo e da ondulação narrativa que lhe consomem preocupações e também distracções, um vai e vem a que se aconselha leitura atenta de forma a não se perder o fio à meada tricotada.
Estamos, assim, num mundo de incerteza interior que corrói o tal ram-ram profissional e para o qual Tê aporta toda a sua embalagem filosófica de dimensão académica indisfarçável, o que em muitas das páginas e sentenças alcança complexidade surpreendente. Comparado ao pragmatismo do primeiro romance, as equações espalhadas pela nova escrita talvez afugentem os mais apressados porquanto o poder de toda a composição eleva a narrativa a um género de romagem interior vagarosa e que o tal outro eu Arquibaldo vai aguçando no acosso e negrura.
É, pois, a busca de respostas quanto à origem e passado desse Francisco, o Chico do Lagarteiro que se revê na letra de "Desafinado" de Jobim ao jeito de espelho irónico e no desenho de capa, da autoria de Manuel Pessoa, pela evidência metafórica da imagem, que se adensa até ao capítulo cinquenta das duzentas e poucas páginas de um testemunho literário eficaz e superior que têm, ainda e sempre, na compaixão e sofrimento humano a poderosa e misteriosa contradição inspiradora.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2022
SONDRE LERCHE, ESCRITOR E NÃO SÓ!
Em "Alene i Sagen"/"Alone in the Song", publicado recentemente pela editora de Oslo Flamme Forlag em "single box", formato entre um livro e uma revista, o ensaio inédito verte sobre como a música brota quando e onde menos se espera, de como a solidão forçada pode ser uma fonte de trabalho em alta velocidade e como as letras lideram sempre todo o processo de composição. O esforço, concretizado entre digressões intensas pela Noruega parcialmente bloqueadas pela covid 19 e pelo vício da corrida (Lerche já conclui cinco maratonas), têm como epicentro e centralidade a composição, registo e envolvimentos para o excelente álbum "Avatars of Love" lançado em Abril passado, experiência artística intensificada desde o seu regresso temporário a Bergen em 2020 depois de quinze anos passados entre Los Angeles e Brooklyn nos E.U.A.
Já quarentão, um outro gosto especial por vinhos naturais e orgânicos e pela sua produção levou-o ao lançamento de PATOS, rótulo para duas colheitas experimentais (rosé e cava) destinadas ao mercado americano e que, aparentemente, escorregam sem dificuldade. Temos vitivinicultor!
Entretanto e mantendo o hábito, Lerche não acabou o ano sem gravar mais uma versão de uma canção escolhida a dedo entre as muitas de agrado recente. Ao lado do amigo Matias Tellez, a selecção foi-se estreitando a "As It Was" de Harry Styles, "Break My Soul" de Beyoncé, "About Damn Time" de Lizzo mas a escolha recaiu em "Anti-Hero", tema escrito a meias por Taylor Swift e Jack Antonoff. Gravado no Blanca Studio de Bergen, a cover está disponível desde a véspera de Natal.
terça-feira, 27 de dezembro de 2022
FAROL #149
DAVID BREWIS, SOZINHO E BEM ACOMPANHADO!
A aposta sugere alguma simplicidade e contenção instrumental, longe da sofisticação pop que é aplicada aos Field Music, para o que recebeu e promoveu a ajuda, entre outros, do clarinete e saxofone de Faye MacCalman, do piano e flauta de Sarah Hayes e do quarteto de cordas Crude Tarmac, um género de jazz acústico festivo registado rapidamente no estúdio de Sunderland que divide com o irmão Peter e que não deixou de adicionar, fraternalmente, a bateria às canções.
O disco sairá em Fevereiro pela Daylight Saving Records, casa recentemente fundada para editar esta e outras aventuras extra(ordinárias) mas há já pré-encomenda limitada e assinada à venda pela Rough Trade com despacho marcado para Fevereiro.
segunda-feira, 26 de dezembro de 2022
NEIL HANNON, NATAL EUROPOP!
Para este Natal, foi-lhe lançado um novo desafio temático que foi transmitido no dia de ontem de manhã para o qual selecionou canções e trechos natalícios de James Last, Marlene Dietrich, ABBA ou Demis Roussos apresentados à sua maneira, isto, é com boas doses de sarcasmo e humor. Na ressaca das rabanadas e aletria, para macerar aqui.
THOMAS FEINER, ALELUIA!
No que parece ser um projecto alargado de versões, sinal dado em Outubro com "The Ship Song" de Nick Cave, o magnífico Thomas Feiner surpreende agora com "Hallelujah" de Leonard Cohen. Assumindo algum desconforto e erro na pronúncia correcta da palavra na sua totalidade, o que só lhe foi apontado após a primeira gravação, o resultado foi aprimorado num posterior registo e é excelente. Aleluia!
sexta-feira, 23 de dezembro de 2022
SINGLES #53
with Choir and Orchestra Directed By Jack Bulterman
Silent Night Holy Night/Mary's Boy Child
White Christmas/Winter Wonderland
Holanda: Fontana 453 210 TE, 1960
Na nossa caixa com singles de Natal em vinil, que está a rebentar pelas costuras, multiplicam-se versões de clássicos como os que os The Blue Diamonds editaram em 1960. Coros infantis, coros de catedral, instrumentais orquestrados, à guitarra ou com saxofone, ao longo de décadas o filão foi-se acentuando na diversidade e também nas latitudes mas há nas interpretações deste EP um travo de algum exotismo saboroso.
A história dos The Blue Diamonds, apelidados de "Dutch – Indonesian Everly Brothers" como aprendemos na wikipedia, está no verso da capa que acima se reproduz e confirma o êxito obtido nessa época na Holanda e alguns outros países muito à custa de uma leve variação ao rock'n roll que então florescia na sua inocência e novidade. O lado B, onde está o tema de Irving Berlin que dá título ao disco e uma recreação de "Winter Wonderland", é mesmo a melhor parte dessa faceta simples de fazer as coisas que não perdeu, passados mais de sessenta anos, a frescura e eternidade que por estes dias ainda sabe bem ouvir e sentir... Diamantes!
quinta-feira, 22 de dezembro de 2022
3X20 ESPECIAL 2022
20 CANÇÕES X 20 ÁLBUNS X 20 CONCERTOS
+ 10 Low + 10 High 2022
Para quem ainda têm paciência para listas, aqui ficam as nossas!
1. KHRUANGBIN & LEON BRIDGES - B-Side »»»
2. WILCO - Hearts Hard To Find »»»
3. ARCTIC MONKEYS - There’d Better Be A Mirrorball »»»
4. JULIA JACKLIN - Ignore Tenderness »»»
5. JOAN SHELLEY - Completly »»»
6. DESTROYER - Eat The Wine, Drink The Bread »»»
7. REVEREND BARON - Fool On The Ave. »»»
8. BLACK MIDI - Sugar/Tzu »»»
9. BILL CALLAHAN – Coyotes »»»
10. WARPAINT - Champion »»»
11. TORO Y MOI - Postman »»»
12. BNEE - Beach Boy »»»
13. PANDA BEAR - Danger »»»
14. DAMIEN JURADO – Roger »»»
15. THE DIVINE COMEDY - The Best Mistakes »»»
16. DRUGDEALER - Madison »»»
17. TIM BERNARDES - Última Vez »»»
18. ANGEL OLSEN - Through The Fires »»»
19. JACK WHITE - Into the Twilight »»»
20. THE SMILE - You Will Never Work in Television Again »»»
20 Álbuns:
1. WILCO - Cruel Country
2. BIG THIEF - Dragon New Warm Mountain I Believe in You
3. THE WEATHER STATION - How Is It That I Should Look At The Stars
4. THE DELINES - The Sea Drift
5. JULIA JACKLIN - PRE PLEASURE
6. REVEREND BARON - From Anywhere
7. BLACK MIDI - Hellfire
8. JOAN SHELLEY - The Spur
9. JAKE XERXES FUSSELL - Good and Green Again
10. DESTROYER - Labyrinthitis
11. DAMIEN JURADO - Reggae Film Star
12. ANGEL OLSEN - Big Time
13. DOMI & JD BECK - Not Tight
14. SESSA - Estrela Acesa
15. ALABASTRE DePLUME - GOLD: Go Forward in the Courage of Your Love
16. CATE LE BON - Pompeii
17. BILL CALLAHAN - YTI⅃AƎЯ
18. DRY CLEANING - Stumpwork
19. KURT VILE - Watch My Moves
20. THE SMILE - A Light for Attracting Attention
20 Concertos:
1. WILCO, Noches del Botánico, Madrid, 27 de Junho »»»
2. DRY CLEANING, Primavera Sound Porto, 11 de Junho »»»
3. GORILLAZ, Primavera Sound Porto, 11 de Junho »»»
4. JULIA JACKLIN, LAV-Lisboa Ao Vivo, 1 de Dezembro »»»
5. BLACK MIDI, Primavera Sound Porto, 9 de Junho »»»
6. AROOJ AFTAB, Casa da Música, Porto, 2 de Novembro »»»
7. ALABASTER DEPLUME, Jazz Ao Centro, TAGV, Coimbra, 24 de Setembro »»»
8. ILL CONSIDERED, Mucho Flow, Guimarães, 5 de Novembro »»»
9. CIRCUIT DES YEUX, Auditório de Espinho, 21 de Outubro »»»
10. NISHAT KHAN, Mimo, Igreja de São Bento da Vitória, Porto »»»
11. THE WEATHER STATION, M.Ou.Co., Porto, 2 de Junho »»»
12. SESSA, Maus Hábitos, Porto, 12 de Abril »»»
13. AMBROSE AKINMUSIRE, Jazz Ao Centro, TAGV, Coimbra, 22 de Outubro »»»
14. PANDA BEAR & SONIC BOOM, M.Ou.Co., Porto, 14 de Outubro »»»
15. JENNY HVAL, Auditório de Espinho, 22 de Novembro »»»
16. ANGELICA SALVI, Mosteiro de Águas Santas, Maia, 25 de Novembro »»»
17. EMMA RUTH RUNDLE, Casa da Música, Porto, 6 de Julho »»»
18. AZYMUTH, Auditório de Espinho, 8 de Outubro »»»
19. ALFAMIST, Matosinhos em Jazz, 16 de Julho »»»
20. MICHAEL KIWANUKA, Super Bock Arena, Porto, 23 de Setembro »»»
10 Low:
. o desvario destruidor de Putin;
. ter falhado os Destroyer em Braga;
. a super-rápida Liz Truss;
. a bofetada de Will Smith em directo;
. a contínua parvalhice parva de Elon Musk;
. o actvismo climático em modo estúpido;
. a enchente caótica/perigosa do 1º dia do Primavera;
. a/o novela/o do aeroporto de Lisboa;
. a semana fúnebre em directo de Londres;
. o embaçar do brilho CR7 por culpa própria.
10 High:
. aquela imagem de capa do disco dos Dry Cleaning;
. os filmes e documentários do TV Cine Edition;
. o regresso aos livros de Carlos Tê;
. os concertos-convívio do Mercado 48;
. a barrigada de jazz inglês num jardim de Matosinhos;
. o adeus emocionante do super-campeão Federer;
. a contínua validade da já clássica rábula Portugalex;
. não um, mas cinco discos dos SAULT de uma só vez;
. as três medalhas de ouro do puto nadador Diogo Ribeiro;
. o Brasil sem Bolsonaro.
GRUFF RHYS, ESTREIA EM BANDA SONORA!
Dirigido por Celyn Jones e Tom Stern, o enredo da película foi escrito por Jones e Kaite O'Reilly, tendo como base uma peça de teatro de O'Reilly de 2008 com o mesmo nome onde se conta a história de uma arqueóloga (Rebel Wilson) e de uma arquitecta (Charlotte Gainsbourg) em luta dolorosa contra o passado traumático causador de degradação neurológica, o que remete directamente para o título escolhido. O filme teve já première seleccionada em alguns festivais australianos e norte-americanos.
Nas vinte e duas faixas originais compostas por Rhys há instrumentais e algumas canções registadas com a National Orchestra of Wales em tempos de pandemia, o que causou uma constante variação de locais de gravação, desde casas de amigos a átrios de espaços públicos, usando e abusando alternadamente do Mellotron, sintetizador mítico, e do violoncelo. O resultado de variação sónica e acústica tem em "Amen", a primeira canção a ser conhecida, uma aproximação sonora à saudade e frustração, na realidade, temáticas inerentes ao drama que tem estreia marcada para Portugal, ainda sem título traduzido, para 18 de Maio próximo.
quarta-feira, 21 de dezembro de 2022
COURA PARAÍSO, WILCO FIELDS & Cª Ldª!
terça-feira, 20 de dezembro de 2022
DANIEL KNOX, Mercado 48, Porto, 18 de Dezembro de 2022
A presença de Daniel Knox em palcos portuenses, apesar de não muito distante, já merecia repetição. O músico de Chicago adoptou a cidade como local de residência e trabalho, frequentando espaços culturais, de diversão ou de restauração e fazia sentido que essa convivência fosse comemorada com um concerto entre os novos amigos e agora vizinhos. O espaço do Mercado 48 foi, naturalmente, o palco escolhido para esse encontro informal e próximo às canções que muitos conheciam e admiram mas que se prestam a novas audições saborosas a que as habituais histórias e apartes acrescentam paladar.
Com a excepção de um tema inédito de mais um álbum a sair em breve, a escolha preencheu momentos dos diversos discos já editados, uma selecção de verdadeiros clássicos de um songbook de expressão cinemática, nocturna e de uma idiossincrasia estimulante em que as líricas, prontamente amarrotadas e deitadas para o chão, relembram tragicomédias ora singulares ora divertidas. Não estranhou, assim, que o convívio culminasse com uma versão colectiva de "Last Christmas" em modo anárquico e irrepetível. Special!
segunda-feira, 19 de dezembro de 2022
DRY CLEANING SERÁ ONDE?
A passagem dos Dry Cleaning pelo Parque da Cidade em Junho passado foi, sem dúvida, um dos grandes momentos de música ao vivo de 2022. Mas queremos mais.
Temos estado atentos a agendas de digressões ou festivais mas o que é certo é que até hoje não há regresso oficial marcado. Contudo, não deve faltar muito para que se saiba se a banda apresentará o novo e, mais uma vez, excelente, "Stumpwork" mais a sul ou, de preferência, mais a norte.
Fica aqui, pois, meia hora maravilha de Setembro passado pela sede da Bandcamp em Oakland, Califórnia, só para matar saudades...
ACTUALIZAÇÃO em 20 de Dezembro, 13h00:
- o destino confirmado é Paredes de Coura. Eia!
NINA NASTASIA NA SALA ESCURA!
sexta-feira, 16 de dezembro de 2022
(RE)VISTO #104
de Charlotte Gainsbourg. França; Indée Films/The Party Film Sales, 2021
TvCine Edition, Portugal, 14 de Dezembro de 2022
A vida de Jane Birkin aparentava estar já documentada como merecia. Um segundo volume de memórias autobiográficas mais recentes (1982-2019) saído em 2019 sugeria anotar a muitas dos acontecimentos, imagens, filmes ou canções os detalhes definitivos que a amiga Agnàs Varda tinha já retratado à sua maneira em 1988 com "Jane B. Par Agnès. V" (o filme passou no início do mês em Serrralves no âmbito da restrospectiva dedicada à realizadora francesa).
A proposta que a filha Charlotte Gainsbourg endereçou à mãe no sentido de lhe dedicar um outro e novo documentário de perigosa intimidade e confronto não meteu medo à progenitora apesar da chegada de uma leucemia e de uma relação semi-tensa com essa filha do "meio" de três casamentos (as irmãs Kate Barry, já falecida, e Lou Doillon). O resultado é enternecedor.
Com projecções no Doc-Lisboa e no Porto-Post-Doc do ano passado ou na Festa de Cinema Francês de 2022, o filme teve estreia inovadora em salas de bibliotecas ao longo de 2021 a cargo da associação cultural Zero em Comportamento mas a sua aparição televisiva fará, certamente, justiça a um projecto de risco assumido que se afigura de obrigatória visualização e inevitável elogio.
Perante uma câmara, a redescoberta de um vínculo familiar, interrompido aquando da trágica morte de Kate Barry em 2013, assume-se para o espectador incauto como uma simulação ensaiada e disfarçada num guião anotado. Ao documento, pelo contrário, não se conhece pré-plano de construção ou aprovação, o que resulta em imagens de uma constante surpresa e candura em diferentes situações e locais. A protagonista nesses encontros é, naturalmente, Birkin em digressão pelo Japão, na areia da praia da casa da Bretanha, num teatro de Nova Iorque mas as conversas, os diálogos e as confissões têm quase sempre uma destinatária no feminino, uma intimidade por vezes confrangedora, inesperada e de alguma tensão no "deitar as coisas para fora".
Aproxima-as uma liberdade que a vida lhes deu, talvez em demasia, mas é a figura de Serge Gainsbourg, marido e pai em alguns anos juntos de felicidade e quezílias, que paira, mesmo assim, como apaziguador-mor - a casa comum de união e infância é-nos mostrada quase ao jeito de uma visita guiada a um tesouro museológico conservado in situ e comentado ao vivo entre recordações e confidências pungentes, num dos momentos mais fascinantes e comoventes do filme.
Acentua-se, por isso, a sensação que esta é uma oportunidade de Charlotte para se rever na sua mãe de uma forma ousada e pacificadora de desgostos e asneiras que alguns fantasmas do passado tinham abafado. Fá-lo de uma forma reveladora, que longe de um tributo, funciona como uma dedicatória de amor e afecto que, mesmo tingida de dramatismo, não nos fere mas nos ajuda na cura. O piano de Nils Frahm como fundo sonoro suaviza-a na perfeição.
O abraço final com o barulho do mar ao fundo é, pois, o epílogo que todos queríamos ver acontecer, não como um simplório e esperado final feliz, mas como um emocionante e sereno tranquilizante que o bom cinema ainda nos oferece. Aproveitem-no!
quinta-feira, 15 de dezembro de 2022
ROBERT FORSTER, A CHAMA DO AMOR!
A música foi então, e mais uma vez, motivo para reforço da união e tenacidade com uma partilha caseira das novas canções em ambiente nocturno depois de dias de medos, tratamentos, exames ou hospitais. Num desses temas, tocado pausadamente enquanto a companheira descansava, Forster sussurrou "She's a fighter, fighting for good", linhas de uma lírica que a canção precisava e que se tornou no primeiro single e faixa de abertura de "The Candle And The Flame", o oitavo disco a solo que as circunstâncias aceleraram, afinal, na prontidão e que estará totalmente disponível no início de Fevereiro.
As nove canções foram produzidas pelo próprio e pela família, isto é, a esposa, o filho Louis Forster dos The Goon Sax e a filha Loretta, uma tarefa concretizada em seis meses, com interrupções óbvias, mas sempre em ambiente "live" e informal num estúdio da natal Brisbane australiana e sem auscultadores ou overdubs. A mais recente e extraordinária "Tender Years", com video dirigido pelo casal, é só mais uma expressão dessa chama de amor eterno.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2022
RICHARD HAWLEY, AO VIVO E A CORES!
Não é, como apresentado, a estreia nos discos ao vivo oficiais. A mesma empresa disponibilizou anteriores gravações de 2017 e 2008 no espaço The Devil’s Arse Cave em Derbyshire, tendo esta última recebido um atraente pacote de vinil transparente entretanto esgotado.
O novo registo inclui todos aqueles clássicos de Hawley e algumas canções de "Further", o último de originais de 2019, com a contribuição de um quarteto de cordas. Atendendo à tormenta meteorológica que se aproxima, aqui fica uma recordação amaciadora...
terça-feira, 13 de dezembro de 2022
ANDY SHAUF, REGRESSO À NORM(ALIDADE)!
O disco assume-se como influenciado pelo filme "Mulholland Drive" de David Lynch e tem num personagem chamada Norm o principal fio condutor das nove canções, um tique conceptual que se sucede a "Neon Skyline" de 2019, também ele um projecto narrativo consistente e a "Wilds", uma colecção viciante de "sobras" de qualidade recuperadas o ano transacto.
FAROL #148
segunda-feira, 12 de dezembro de 2022
PRIMAVERA SOUND PORTO: AMANHÃ ANDA À RODA!
Amanhã, terça-feira, dia 13 de Dezembro, anda à roda o euromilhões dos concertos do Primavera Sound Porto para 2023. A nossa aposta (Shellac não vale):
- 5 números;
Blur, Sparks, Beth Orton, Yard Act, The Mars Volta;
- 2 estrelas;
Domi & JD Beck, Black Country, New Road.
ACTUALIZAÇÃO: acertamos em 4 números
(Blur, Sparks, Yard Act e The Mars Volta).
Mas haverá FKA Twigs, The Comet Is Coming, Darkside, Arlo Parks, Japanese Breakfast, Jockstrap, St. Vincent, Ives Tumor, Julia Holter, Alvvays... e Pet Shop Boys!
KEATON HENSON, É UMA FESTA!
São onze versões à guitarra resultantes de pedidos de fãs de Outubro passado e de que existem videos na referida rede social. Os desejos e suplícios eleitos foram estes:
. "The Middle" - Jimmy Eat World
. "Drops of Jupiter" - Train
. "I Want It That Way" - Backstreet Boys
. "Dammit" - Blink 182
. "Only You" - Yazoo
. "So Hot You’re Hurting My Feelings" - Caroline Polachek
. "Want You to Want Me" - Cheap Trick
. "Flagpole Sitta" - Harvey Danger
. "End Of the Road" - Boyz II Men
. "You Can Call Me Al" - Paul Simon
. "Anti-hero" - Taylor Swift
Se puderem e quiserem procurem, desde já e à socapa, o disco na rede que este é, surpreendentemente, o melhor disco de Natal deste ano!
@keatonspartyplaylist I’ve been here for too long #keatonspartyplaylist #rocktober #altmusic #keatonhenson #cover #blink182 @blink182 ♬ original sound - Keaton’s Party Playlist
NICK GARRIE, TESOURO PORTUGUÊS!
Já no nosso século, o disco viria a ter posteriores publicações o que permitiu ao artista um reconhecimento mais alargado e um regresso aos originais com "49 Arlington Gardens" em 2009 e "The Moon and the Village" em 2017. Junta-se agora mais uma raridade com ligação a Portugal, por onde esteve em digressão em 2014!
Afastado da música profissional, dedicou-se desde os anos setenta à instrução de ski, viajando pela Europa mas não deixando, mesmo assim, de tocar em bares e casas de amigos, o que aconteceu mais tarde numa estadia soalheira por Portugal no início do milénio (sic). Embora apresentado como gravado numa "bodega", o espaço mais correcto deverá, às tantas, ser descrito como uma adega ou, melhor, restaurante/tasca, onde foi recebido com enorme entusiasmo. Da estadia resultou uma sessão registada num estúdio instalado no último piso de um prédio (?). Nas suas palavras:
"And then one summer we went to a lovely village in North Portugal where we picked tomatoes from the field. One night I went out to a 60s type bodega run by a fierce 80 year old with a big stick. He was watching me watch a guitarist and asked me if I played a little.
He pulled out a guitar from under the counter and I sang "Deeper Tones of Blue" and I was home for the first time since I recorded Stanislas all those years ago. Sure enough someone asked me if I’d like to make a record and I said yes provided we have the Portuguese guitar which I’d fallen in love with.
We recorded on the top floor of a block of flats with the local bus rattling round the corner. I slept on a bench and when we finished I took everybody out for dinner.
When I got back to my bench in the wee hours of the morning the young Portuguese guitarist was sitting there with a bonnet pulled over his eyes.
"What are you doing"?
"I stay till the morning comes" (which is one of the songs we recorded).
Well, the album went nowhere and lay on my shelf for 20 years until someone wrote in asking for it.
I listened and loved that Portuguese guitar all over again. Many stories to tell but in the meantime my heartfelt thanks to Jose Cid who often invited me to sing at his gigs and Antonio Freitas who is the kindest person in Music."
Resultado: "Summer Nights – The Lost Portuguese Session" inclui onze temas seus polvilhados de guitarra portuguesa e não só e que a Tapete Records alemã editou a semana passada. A imagem da capa acima talvez sirva para identificar o local nortenho da história ainda com muitas pontas soltas, mas não temos a certeza se ela é referente ao momento descrito, o que se afigura bastante improvável.
Aqui fica "Deeper Tones of Blue", tema que motivou a interacção e que faz parte do referido "The Nightmare Of J.B. Stanislas". Para escutar pequenos excertos do tesouro redescoberto, o caminho é este...
sábado, 10 de dezembro de 2022
sexta-feira, 9 de dezembro de 2022
(RE)VISTO #103
de Ajoy Bose. Inglaterra; Renoir Films/Silva Screen Music Group, 2021
TvCine Edition, Portugal, 1 de Dezembro de 2022
O jornalista e político indiano Ajoy Bose lançou em 2018 um livro sobre a relação dos The Beatles com a Índia. Chamou-lhe "Across The Universe - The Beatles And India", nome da canção onde as influências da música indiana se notam de princípio ao fim, e que foi lançado cinquenta anos depois do célebre retiro dos Fab Four em Rishikesh, um evento que não foi transmitido em directo pela televisão mas que obteve acompanhamento massivo em todo o mundo. Nesta tarefa obteve a ajuda de Peter Compton, um reputado investigador e documentalista que ajudou na reunião de documentação e testemunhos suficientes para ilustrar e construir uma narrativa alternativa sobre tamanha viagem de inspiração e... confusão. Fazer um filme estava, assim, a curta distância.
Quase tudo já foi dito e redito sobre o episódio e os seus antecedentes - o artigo da Wikipedia continua em constante actualização - e já serviu para sátiras inesquecíveis e também para arquivos digitais de duvidosa proveniência, mas sempre com uma figura central, Georges Harrison. No seu ambiente familiar, ouvir música indiana através da rádio aguçou a sua curiosidade sobre o som da cítara e, aquando da gravação de "Abbey Road" e pretendendo usar esse instrumento, uma das cordas partiu-se havendo necessidade de a substituir. Estávamos em 1966 e o imprevisto haveria de motivar e multiplicar rapidamente o contágio sobre o exotismo da sonoridade e, por isso, nada como beber na fonte com imediatas viagens a Deli e contactos com músicos e lojas de instrumentos. Faltava a aprendizagem que Harrison acabou por obter do mestre Ravi Shankar, parceria e ligação que o filme destaca de forma evidente e clara, um encontro multi-cultural decisivo e pioneiro que mudou também o gosto musical na própria Índia onde os The Beatles não deixaram de ser um fenómeno influenciador (o testemunho de Biddu, produtor e músico que associamos ao disco-sound da década seguinte, ganha aqui uma surpresa).
Harrison mergulha, então, no país em férias lúdicas mas pedagógicas quanto às tradições hindus e os seus significados, chegando a gravar com músicos locais ("Wonderwall", 1968) e proporcionando, cada vez mais, uma maior influência nos restantes parceiros de banda que a ascensão do mestre Maharishi e a suposta pertinência da sua proclamada meditação transcendental se revelaria imparável. Se as drogas e, particularmente o LSD, tinham já causado experiências limite, a prática proposta pelo novo guru levou os The Beatles até Rishikesh, cidade do norte da Índia banhada pelo Ganjes e no sopé do Himalaia, para uma nova experiência colectiva em plena natureza ao lado das esposas, amigos (Donovan, Mike Love, Mia Farrow) e reclusos anónimos.
O filme volta ao local, hoje um sítio turístico apesar de abandonado, sobrepondo o passado e o presente com testemunhos interessantes e onde se percebe a descida à terra dos quatro famosos mas também a estranha e perigosa veneração a Maharishi. A presença vigiada e controlado por magotes de jornalistas - o testemunho de um deles e de como fintou a segurança para entrar no local é piadético - revela-se também vital no assinalar das desistências, primeiro a de Ringo, depois a de Paul e ao aumentar das dúvidas sobre a veracidade da terapia.
Talvez se esperasse que o documento fosse mais profundo quanto à música que o mesmo Paul e John aproveitaram para, então, compor e que, na sua maioria, haveria de resultar numa obra prima. O álbum branco e muitas das suas canções tiveram berço em Rishikesh e as raras documentadas ("Blackbird" ou "Dear Prudence", por exemplo, sobre uma irmã de Mia Farrow) sabem a pouco mas acabam por ser a sua parte mais saborosa. É um prazer ver os Beatles juntos sem ser em cima de um palco ou num estúdio em confraternização pausada e natural... Contudo, tudo começa a ser questionado, dos mantras duvidosos às acusações "montadas" de assédio sexual a Maharishi e até de espionagem americana (!), ganhando a paz aparente uma espessa nuvem negra a que só Harrison foi resistindo convictamente na procura de uma resposta à pergunta "Porque sou famoso?".
As suas canções talvez chegassem para obter uma solução simples, mas elas não se ouvem por aqui, aliás, quaisquer excertos ou notas originais estão arredadas da banda sonora, apesar de o filme ter inspirado um conjunto de versões de audição aconselhável, sendo essa uma lacuna que não belisca a qualidade e frescura de um documentário pertinente e de agradável lisura mas que, mesmo assim, não esclarece em definitivo se a Índia foi um destino inocente ou uma farsa pré-preparada de encobrimento a uma separação anunciada. Transcendental!
quarta-feira, 7 de dezembro de 2022
terça-feira, 6 de dezembro de 2022
BRAD MEHLDAU, (QUASE) SÓ THE BEATLES!
Assim, a Nonesuch Records publicará em Fevereiro do próximo ano o álbum "Your Mother Should Know: Brad Mehldau Plays The Beatles", onde assentam nove canções ao vivo de John Lennon e Paul McCartney e uma de George Harrison captadas no referido espaço parisiense. A escolha recaiu no período compreendido entre a edição de "Rubber Soul" (1965) e "Let It Be" (1970) e onde, diz, transparece na composição dos The Beatles uma surpreendente estranheza que permitiu a sua longevidade e contínua modernidade. A capa remete ainda para "Abbey Road" e para sua mítica imagem dos quatro numa passadeira. Junta-se, no final, uma versão de "Life On Mrs" de Bowie, um outro mestre das canções pop.
Para o lançamento do disco foi ainda registado no Village Vanguard de Nova Iorque um pequeno testemunho do próprio e uma interpretação especial do tema título (ver abaixo).
segunda-feira, 5 de dezembro de 2022
DAVID BYRNE, ESTÁ CHEGAR O HOMEM GORDO!
A pretensão sempre foi assumida por David Byrne - compor e gravar uma canção natalícia o que agora se pode ouvir de forma oficial com "The Fat Man's Comin". O tema sofreu várias apresentações ao vivo em 2014 sob o nome de "Fat Man" e terá sido escrita no ano anterior
durante o processo de colaboração com St. Vincent (álbum "Love This Giant"). O respectivo video tem animação baseada num storyboard do próprio Byrne concebido como projecto prévio mas que nunca conheceu a luz do dia devido aos gastos absurdos, tendo a canção acabado na prateleira.
Para o novo registo associou-se ao arranjador Jherek Bischoff e a uma "orquestra" completa de nove músicos sendo o resultado, como pretendido, um tema "creepy old school" ao jeito da lendária música "Teddy Bears Picnic".
A história e conceito associado "ao homem gordo" que deixa presentes em casa das pessoas, numa secular onde de consumismo, serve de alerta e confronto com a necessidade de um outro espírito mais solidário e ecológico, sendo por isso o objectivo deste lançamento a recolha de dinheiro destinado à organização internacional 350.org que pretende acabar com o uso de combustíveis fósseis e fazer a transição para energia renovável. O esforço visa, ainda, manter em actividade o projecto "Reasons To Be Cheerful". As doações estão disponíveis através do bandcamp oficial.
ERIN RAE + JULIA JACKLIN, LAV-Lisboa Ao Vivo, 1 de Dezembro de 2022
Ao fim de uma década, foi preciso o dia da Restauração e o feliz encontro de uma americana de Nasville e uma australiana de Blue Mountains para nos fazer regressar a um concerto pela capital e a óbvia estreia no espaço ao vivo lisboeta, um irmão afastado do Hard Club (duas salas, diferentes tamanhos). Coincidência, o espectáculo marcava também o final de um digressão conjunta de mais de vinte datas pela Europa.
Com o espaço da Sala 2 ainda por encher, Erin Rae foi recebida de braços abertos e muita simpatia. Alguns conheciam as canções de "Lighten Up", o álbum deste ano que assinala uma nítida melhoria e consistência na qualidade da composição com o dedo de Jonathan Wilson e que serviu de guião dos trinta minutos de partilha, um desfile a solo e de guitarra em punho em estilo muito americana e light-country que se aprende a gostar. A firmeza da voz, as histórias que com ela rodeia a solidão ou a tristeza mas também o amor ou "aquilo que julgamos que ele é" de forma muito própria, diferente até no confronto aos padrões bafientos do country, teve em "California Belongs To You" e "Modern Woman" de enfiada uma prova inequívoca desse corajoso e positivo passo em frente. Saiu, por isso, com forte aplauso mas haveria de voltar.
Se fosse americana e ao fim de três álbuns de assinaláveis virtudes e aptidões, talvez Julia Jacklin já tivesse ganho Grammy's e encómios mais alargados. Não que nos os merecesse, mas a artista tem mantido a estabilidade necessária, sem deslumbramentos, apostando na rapidez digital e no, ainda e sempre, funcional passa-a-palavra para cimentar aficionados dedicados e leais.
Na sala, agora sim, repleta (esgotada?) notava-se esse frenesim contido antes da sua entrada em palco mas que logo explodiu em ovação e alarido mesmo que fosse uma notável canção de Natal ("Baby Jesus is Nobody's Baby Now") a escolhida para logo satisfazer, no único momento a solo, um pedido de um desses muitos fiéis.
O que se seguiu, já em pleno vapor ao lado do seu quarteto instrumental, foi um crescente desfilar de canções sublimes e a roçar a perfeição pop - por exemplo, "Love, Try Not to Let Go" ou "Lydia Wears a Cross" - que um apurado acerto da acústica do espaço consagrou na fruição. No final de cada um dos dezasseis temas escolhidos, o entusiasmo demonstrado pela plateia foi crescendo em euforia perante, pareceu-nos, a surpresa da própria Jacklin e de que "Head Alone", cantado em coro, foi exemplar. Mesmo assim, e para trás, algumas interacções quanto a elogios duvidosos ao vestido ou outras bocas sem sentido eram perfeitamente dispensáveis.
Sem encore formal, ou seja, sem sair do palco, e já depois do imbatível "Pressure to Party", a surpresa da noite - os acordes de "My Heart Will Go On" de Céline Dion soaram no espaço e a canção foi, então, cantada e dueto com Erin Rae já de volta ao palco. Mais uma vez, a resposta foi um uníssono coro no refrão, nada de embaraçoso ou excessivo mas de nítida libertação de ambos os lados de uma contenda que está longe de ter terminado. É só esperar, de certeza, pelos festivais da época primavera-verão...
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