sábado, 21 de dezembro de 2024

3X20 ESPECIAL 2024

















20 CANÇÕES X 20 ÁLBUNS X 20 CONCERTOS 
+ 10 Low + 10 High 2024 
Dizem que fazer listas reduz a ansiedade. Bem que precisamos... 

20 Canções: 
1. HURRAY FOR THE RIFF RAFF - The World Is Dangerous »»» 
2. NICK CAVE & THE BAD SEEDS - Song of the Lake »»» 
3. ADRIANNE LENKER - Ruined »»» 
4. JESSICA PRATT - Better Hate »»» 
5. CHROMEO - BTS »»» 
6. JULIA HOLTER - Something in the Room She Moves »»» 
7. RICHARD HAWLEY - Prism in Jeans »»» 
8. WAXAHATCHEE - Right Back to It (feat. MJ Lenderman) »»« 
9. EMPIRE OF THE SUN - Music On The Radio »»» 
10. MC.GKEE - Candy »»» 
11. BNNY - Something Blue »»« 
12. FAT WHITE FAMILLY - Visions of Pain »»» 
13. AROOJ AFTAB - Whiskey »»« 
14. BRITANY HOWARD - Every Color In Blue »»» 
15. ELEPHANT9 - Party Among The Stars »»» 
16. THE WOODENTOPS - Liquid Thinking »»» 
17. LITLE WINGS - Green Grass of Spring »»» 
18. BADBADNOTGOOD - Sétima Regra »»» 
19. KHRUANGBIN - Pon Pón »»» 
20. KACEY MUSGRAVES - Dinner with Friends »»» 

20 Álbuns: 
1. JESSICA PRATT - Here in the Pitch 
2. HURRAY FOR THE RIFF RAFF - The Past Is Still Alive 
3. BETH GIBBONS - Lives Outgrown 
4. ELEPHANT9 - Mythical River 
5. LAURA MARLING - Patterns in Repeat 
6. FIONN REGAN - O Avalanche 
7. HERMANOS GUTIERREZ - Sonido Cósmico 
8. CASSANDRA JENKINS - My Light, My Destroyer 
9. JAKE XERXES FUSSELL - When I'm Called 
10. THE AMAZING - Piggies 
11. BADBADNOTGOOD - Mid Spiral 
12. NILUFER YANIA - My Method Actor 
13. GEORDIE GREPP - The New Sound 
14. NUBYA GARCIA - Odyssey 
15. MK.GEE - Two Star & The Dream Police 
16. RYUICHI SAKAMOTO - Opus 
17. ISOBEL CAMPBELL - Bow To Love 
18. HIGH LLAMAS - Hey Panda 
19. GHOST FUNK ORCHESTRA - A Trip to the Moon 
20. ANDREW COMBS - Dream Pictures 

20 Concertos: 
1. PULP, Primavera Sound Porto, 8 de Junho »»» 
2. RICHARD HAWLEY, Teatro Salesianos, Vigo, 21 de Setembro »»» 
3. KEVIN MORBY & ENSEMBLE DA ESMESPINHO, Auditório de Espinho, 24 de Novembro »»» 
4. RYLEY WALKER, GNRation, Braga, 4 de Outubro »»» 
5. PJ HARVEY, Primavera Sound Porto, 6 de Junho »»» 
6. ARNALDO ANTUNES & VITOR ARAÚJO, Ponto C, Penafiel, 27 de Outubro »»» 
7. PANDA BEAR, Plano B, Porto, 7 de Dezembro »»» 
8. LUBOMYR MELNYK, Auditório de Espinho, 2 de Novembro »»» 
9. BEACH FOSSILS, Festival Paredes de Coura, 16 de Agosto »»» 
10. MOSES BOYD, Matosinhos em Jazz, 13 de Julho »»» 
11. SOUNDWALK COLLECTIVE & PATTI SMITH, Theatro Circo, Braga, 24 de Março »»» 
12. SCOTT MATTHEWS, Sala do Capítulo, Museu de Leira, 17 de Novembro »»» 
13. JULIA JACKLIN, Teatro Jordão, Guimarães, 6 de Outubro »»» 
14. JIM WHITE & MARISA ANDERSON, Claustro da CMBarcelos, 14 de Setembro »»» 
15. CAT POWER SINGS BOB DYLAN, Festival Paredes de Coura, 16 de Agosto »»» 
16. ALABASTER DEPLUME, GNRation, Braga, 2 de Março »»» 
17. BILL MACKAY, Teatro Rivoli, Porto, 13 de Setembro »»» 
18. KARA JACKSON, GNRation, Braga, 15 de Junho »»» 
19. LAMBCHOP, Primavera Sound Porto, 7 de Junho »»» 
20. ROBERT FORSTER, M.Ou.Co., Porto, 3 de Junho »»» 

10 Low: 
. o álbum que não saiu dos Três Tristes Tigres; 
. o retorno do devil Trump; 
. a ofensiva criminosa de Israel; 
. a partida do imprescindível Paul Auster; 
. a lição esquecida dos incêndios; 
. o figurão Musk a lançar e a recolher a teia; 
. a banhada do e no Primavera Sound Porto; 
. o racismo e a xenofobia perfeitamente instalados; 
. o "estoumecagandismo" da empresa Metro do Porto; 
. a inacreditável facilidade para fugir de uma prisão portuguesa; 

 10 High: 
. o convívio galego com Richard Hawley; 
. o milagroso futebol feminino português; 
. o "Opus" de Mr. Sakamoto venerado num grande ecrã; 
. não uma, mas duas medalhas olímpicas de Iúri Leitão; 
. as crónicas dominicais do Valter Hugo Mãe; 
. a beleza embriagante do disco da Jessica Pratt; 
. o "Coyote" e o novo imão "Sinais de Fumo" do Pedro Costa na Ant3na; 
. a exposição "Para Ser Eterno Basta Ser Um Livro..." na Casa do Design; 
. o portentoso Tadej Pogcar em cima de uma bicicleta; 
. o mar de gente que ainda celebra a preciosa liberdade de Abril.

UAUU #734

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

(RE)LIDO #125





















GRANT & I 
Inside and Outside The Go-Betweens 
de Robert Forster. Londres; Omnibus Press, 2017 
Os Go-Betweens foram a melhor banda dos anos oitenta e foram, por sinal, a mais desprezada. Quando em 1989 Robert Forster e Grant McLennan decidiram acabar com o projecto ao fim de seis álbuns de originais, restava entre os dois uma amizade inabalável que não impediu caminhos a solo. A separação implicou dores, desconfianças e receios, mas nunca rancores definitivos, não se estranhando que os dois tenham decidido reatar a banda em 2000, gravando mais um excelente par de discos. A morte inesperada de McLennan em 2006 haveria, em definitivo, por fechar o pano dos Go-Betweens não sem que uma promessa fosse assumida por Forster - contar tudo do princípio ao fim, homenageando o amigo perdido e assumindo uma faceta de narrador de histórias ou crítico de música que a paixão superior pelo pop/rock sempre coartou. 

O resultado, datado de 2017, mas de validade eterna, é este livro de reluzente narrativa e frenética cadência, funcionando como uma memória do rock de inquestionável perspicácia e talento que, desde o início, parece destinado a selar e cristalizar uma amizade, como muitas, de profundidade crescente. Foram três décadas de irmandade cúmplice, ainda que a aproximação entre ambos se tenha afigurado difícil - a relutância de McLennan em assumir um instrumento para tocar seria superada por uma estratégia, quiçá, literária de Forster ao fazer das líricas das primeiras canções um chamariz irresistível. Nick Cave haveria de topar essas letras, apelidando-o como o mais verdadeiro e estranho poeta da sua geração. 

A clareza, a piada com que Forster nos aproxima a esses momentos de partilha, denotando uma rara franqueza e até uma desarmante ousadia, funciona como uma sequência cinematográfica sem intervalo que nos põe a reconstituir os cenários, os ambientes ou as expressões de dois personagens tão diferentes e, ao mesmo tempo, tão iguais e de que, por si só, a estadia primeira em Londres, vindos da Austrália, resultaria em argumento fílmico de imediata eficácia. A inconstância dos contratos com as editoras, a relutância em fazer alguns concertos e tournées, as parcerias e ajudas inesperadas, são assumidas como vitórias saborosas e não como pecadilhos profissionais de arrependimento, sinceridade que se espelha numa prosa de celebração contínua em que as canções são, e serão, o mais importante. 

A digressão com Lloyd Cole, de que fomos testemunhas, aporta a única referência a Portugal, concretamente a um campo de golfe lisboeta para uma disputa com o próprio Cole apostada num backstage. Pena que uma anterior e atribulada estadia que trouxe os Go-Betweens a Lisboa e ao Porto em 1989 não mereça maior destaque, quando do quarteto faziam parte duas raparigas, uma delas, Amanda Brown, aceleradora de corações a que McLennan não resistiu na paixão. Quando no Passos Manuel em 2019 lhe fizemos a desafio, entre conversas de pós-concerto, para recordar esses tempos, Forster remeteu-nos para o livro que ainda não lhe tínhamos pedido para assinar. Quando o fizemos, logo percebeu que, ou a leitura foi mal feita ou ainda não tinha ocorrido, pois a resposta foi um simples "You'll get it!". Percebido, amigo!

Sempre que pretenderem fazer de um funeral uma impossível boa memória, o concelho é para que marquem e o aprendam nas últimas páginas deste magnífico livro, uma especial e sentida sequência festiva de homenagem a um amigo que foi, por dentro e por fora, como um verdadeiro irmão. Acreditem, o "I am a Believer" que o Neil Diamond escreveu para os The Monkees em 1966 nunca deverá ter soado tão perfeito...  


KINGS OF LEON A BOM CAMINHO!















Os Kings of Leon, como confessado e documentado, continuam a despertar o nosso interesse e devoção. Nunca mereceram, no entanto, qualquer agendamento nortenho, estando já confirmada a sua presença, a terceira, em Lisboa a 12 de Julho de 2025 no âmbito do NOS Alive

Fazendo por aqui um aparte, remoque aos organizadores do principal festival da Invicta que se realizará pela décima segunda vez na primavera e cientes que há bandas que já duplicaram ou triplicaram a presença no mesmo evento, lembramos que, para além dos KOL e só para citar alguns, Django Django, Alt-J, Artic Monkeys, Arcade Fire, LCD Soundsystem, The Black Keys, Jack White, Hot Chip, Phoenix, BADBADNOTGOOD, The Smile, Vampire Weekend ou The Strokes nunca tocaram no Parque da Cidade! 

Por isso, a notícia que os KOL serão uns dos cabeças de cartaz do concorrente O Son do Camino, festival que acontece em Santiago de Compostela, precisamente, nos dias do Primavera Sound Porto, é mesmo uma atraente boa-nova, constituindo a oportunidade perfeita para colmatar a lacuna e um forte início de uma troca de galhardetes - se antes eram os espanhóis a vir ao Porto, adivinha-se que começará a acontecer o contrário! 

A banda norte-americana fará, na ocasião, a apresentação do nobre disco "Can We Please Have Fun" de 2024, estando ainda por divulgar o dia, de quinta a sábado, em que ocorrerá a estreia galega. Os bilhetes diários, por isso, ainda não estão disponíveis, mas o abono completo está já à venda. Manteremos a atenção! 


quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

DUETOS IMPROVÁVEIS #299

SUSANNA HOFFS & ELVIS COSTELLO 
Connection (Jagger/Richards) 
Keith Richards 81st birthday celebration, 
Baroque Folk Records, E.U.A., Dezembro de 2024.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

WAXAHATCHEE DE SECRETÁRIA!

PEARL CHARLES, RAÍNHA DO DESERTO!





















A californiana Pearl Charles está de volta às canções para um álbum novo a sair no próximo mês de Abril. Em "Desert Queen" parece manter-se uma invejável queda para uma pop retrovisora embaciada pelo kitcsh do disco ou da boa onda west coast, o que se confirma em dois primeiros avanços, um deles, "Does This Song Sound Familiar?" com direto a uma "7" Version" mas cujo single de vinil não conseguimos localizar! 

O álbum terá edição em casa própria chamada Taurus Risng Records, com diferentes variações de capa entre os E.U.A. e a Europa, continente que têm na distribuição da Last Night From Glasgow uma série de pacotes e conjuntos coloridos em pré-encomenda

O regresso aos originais mereceu já digressão britânica em Outubro, seguida, depois, pela California e na qual Charles também se assumiu como dj em vinil ao lado do marido Michael Rault, também ele músico e dj

Uma noitada deste calibre seria bem-vinda, atendendo até ao inexplicável adiamento e, posterior, cancelamento de um concerto portuense ocorrido em 2021 e para o qual se preparavam os passos de dança e se começavam a limpar as lantejoulas e os espelhos...


sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

LAST CHRISTMAS NO MERCADO 48!





















Agora que o single dos Wham! faz quarenta anos, que a loja Mercado 48 faz dez e que, tchhhh, a chafarica Campainha Eléctrica faz dezoito, está prometida animação para o próximo Domingo, 15 de Dezembro, pelas 19h00 na loja da Rua da Conceição. Motivo? 

O amigo Daniel Knox gravou uma versão do incontornável hit de George Michael em 2010 e que tem agora edição limitada em vinil quadrado transparente pronta para lançamento nessa tarde e noite. O artista fará um pequeno showcase ao piano. No mesmo single, que toca só de um lado, há uma surpresa chamada "Lost Christmas" e a capa, linda, é da autoria do Zé Carlos Moutinho. Aceitam-se encomendas online

Lá estaremos a desempoeirar rodelas pequenas, algumas delas de feição natalícia ou espirituosa, mas prometemos não chatear com a Mariah Carey! 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

UAUU #733

AMANDA WHITING, ABRACINHO DE NATAL!

Se ainda não estão em "modo Natal" fazem bem. Para, aos poucos, entrarem na onda, que tem tanto de irritante como de fofinho, podem sintonizar um conjunto de peças que harpista maravilha Amanda Whiting decidiu gravar para o álbum "A Christmas Cwtch", o segundo no mesmo ano

A estranha palavra significa abraço, mas também conforto ou segurança num dialecto galês, o que é fácil de sentir ao ouvir qualquer uma das catorze recriações de clássicos de Bill Evans, Tchaikovsky ou Vince Guaraldi. O conjunto, que devia ser obrigatório como música de fundo em qualquer loja com bom gosto, propaga-se pela magia da harpa e dos arranjos do restante trio de jazz numa fofura cozy e de capa schulziana...



terça-feira, 10 de dezembro de 2024

3X20 DEZEMBRO

PANDA BEAR, Plano B, Porto, 7 de Dezembro de 2024

O disco "Sinister Grift" que Noah Lennox aka Panda Bear prometeu para Fevereiro próximo tem digressão prévia em plena rodagem, tendo a circulação servido para encabeçar a comemoração dos dezoito anos do clube portuense. Uma sorte que, mesmo assim, não esgotou o pequeno espaço da cave... 

Com direito a banda de quatro músicos, uma fórmula bem diferente daquela em que o vimos pela primeira vez ao vivo (tchhhh, 2007!) ou ao lado de Sonic Boom com que regressou ao Porto há dois anos, a noite haveria de confirmar a plenitude de uma receita multi-sonora de profundeza desconhecida e infinita, tendo o mergulho contemplado novos e velhos temas, sem que o tempo pareça que os separe. 

A tudo se poderá chamar, simplesmente, pop, mas o patamar de psicadelismo que a rodeia é de uma fertilidade criativa de indisfarçável espanto e que só alguma pobreza da amplificação não permitiu alastrar ainda mais. A contínua acrobacia das canções, como que unidas por uma liquefacção instrumental, tanto sugere ser válida para ambientes nocturnos e madrugadores ou para fins-de tarde ao ar livre de brisa fresca, variação que caberia libertadora, imaginámos, num qualquer festival de verão apetitoso. 

Tamanha reinvenção, seja onde for, deverá anunciar-se como irresistível e excepcional ou não fosse a arca deste Noah uma das mais antigas, das presentes e das futuras tábuas da salvação da música.  

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

LUCINDA WILLIAMS, A MANIA DOS BEATLES!





















Em 1963, aos dez anos de idade e a viver a infância em Santiago do Chile, Lucinda Williams foi uma das muitas crianças fascinada com o fenómeno The Beatles. Ouvidos pregados ao rádio, posters colados na parede, recortes contínuos de notícias e fotografias dos jornais ou revistas e paixonetas por Paul McCartney ou George Harrison. Da Beetlemania, infecciosa, não mais se livrou... 

Não se estranha por isso que um disco chamado "Lucinda Williams Sings the Beatles From Abbey Road" tenha saído a semana passada, mais uma colecção, a sétima, de versões que a cantora de Nashville tem dedicado a bandas e artistas preferidos, um género de "jukebox series" iniciadas durante a pandemia e que já contemplou vénias a Bob Dylan, The Rolling Stones ou Tom Petty. Todas a funcionar como uma terapia curadora de um ataque cardíaco que nunca mais lhe permitiu tocar guitarra, mas que lhe manteve a força para continuar a compor, gravar e cantar. 

Aquando de um série de concertos em Londres, a sugestão do marido para que o registo fosse nos Abbey Road Studios, local mítico donde os The Beatles emanaram a maior parte dos hits planetários, parecia tola. Certo é que ela se tornou uma das primeiras a gravar os Fab Four na casa, na sala de estar, dos Fab Four, sendo a maior dificuldade escolher que canções eleger entre os dois centos que os de Liverpool germinaram. 

Doze era o número pré-definido e a melhor estratégia seria concentrar a seleccção no tal período inicial e de descoberta dos The Beatles, mas tornou-se irresistível e tentador estender a recriação a mais recentes fases, sendo por isso que o álbum contempla canções como "Something", "Let It Be", "While My Guitar Gently Weeps" ou "Yer Blues". Apesar de ouvidas milhares de vezes, Williams confessa a sua dificuldade em cantá-las. A classe, contudo, com que o faz é magistral e até surpreendente. Fab!



sábado, 7 de dezembro de 2024

PETER BRODERICK, UM MIMINHO!





















Tem uma semana a passagem de Peter Broderick pelo Porto e ficaram prometidos novos projectos e músicas ao fim de algum tempo envolvido com o mundo de Arthur Russell. 

Pois, não demorou nada para que surgissem novidades como é o caso do single digital "Mimi", com fotografia de capa do próprio e saído na Erased Tapes a meio da semana. A explicação, numa tradução informal, é dada pelo próprio: 

"A família pediu-me para tocar violino no funeral da minha avó Mimi. Escrevi esta peça para a querida matriarca da nossa família. Para minha grande surpresa, quando o primo John Doran ouviu isso no funeral, ficou inspirado para escrever um acompanhamento de órgão. Enquanto isso, outra grande Mimi faleceu na mesma época – a voz angelical Mimi Parker dos Low. Aprendi a música deles "Laser Beam" e a minha irmã Heather Woods Broderick teve a gentileza de cantar em harmonia. Com essas duas músicas me curvo em homenagem às grandes Mimi’s perdidas deste mundo."


sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

JAMES BLACKSHAW, DESVENDA-SE UMA MARAVILHA!





















Sendo certo que o hiato prometido em 2015 teve algumas, e boas, interrupções, James Blackshaw cumpriu no final do mês passado o regresso oficial aos discos com "Unraveling in Your Hands", mais uma maravilha da composição à guitarra de doze ou seis cordas e não só... 

São três as peças compiladas, sendo o tema título um longo sobe e desce de vinte e sete minutos pleno de arpejos sinuosos, sugerindo momentos de improvisação e de uma prévia harmonia. Na sua maneira incontornável, mais um clássico

Segue-se "Dexter", uma surpresa ambiental, já que é um orgão o instrumento principal escolhido, a que se juntam cordas de Charlotte Glasson, autora a meias da composição. 

A trilogia completa-se com "Why Keep Still", sem dúvida, a peça mais tradicional e convencional onde às seis cordas da guitarra se faz ouvir um piano a fazer lembrar o trabalho que gravou com Lubomyr Melnyk em 2013

O disco foi auto-produzido e é dedicado a John Hannon, produtor e violinista inglês falecido, repentinamente, em 2021. O desenho da capa é da autoria de Nicole M Boitos Hayhorth, habitual colaboradora de Blackshaw que também já desenhou para Michel Gira ou Neurosis.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

NICK DRAKE, FELIZ ANIMAÇÃO!



















A probabilidade de existirem imagens em movimento de Nick Drake adulto guardadas em algum arquivo ou gaveta esquecida é, ainda hoje, muito ténue. Restam especulações quanto a ser ele num registo ocasional, supostamente, de passagem por um festival ao ar livre em Inglaterra, autenticidade negada pelo seu mais recente biógrafo, Richard Morton Jack. 

O gif de acima, em que ele nos pisca o olho, é já, nos nossos dias, arqueologia digital, pois a imparável inteligência artificial tende a fazer milagres como estes três de abaixo que animam, de forma competente, fotografias clássicas do cantautor inglês. Todos, sem excepção, nos fazem sorrir...



KEATON HENSON, DESALENTO NATALÍCIO!

No seu jeito solitário e até amargurado, Keaton Henson gravou uma canção de Natal sem ser de Natal, apesar do título. Letra sombria, miserabilista e nada festiva, talvez a intenção seja alertar para os efeitos perversos da época que se aproxima, onde algum desalento pode, mesmo assim, ser revertido. Não deixa, no entanto, de ser uma grande canção, mais uma!

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

TUNNG, VINTE ANOS DE RODAGEM!













Os vinte anos do disco "This is Tunng... Mother's Daughter and Other Songs", a estreia dos londrinos Tunng, terá comemoração já em Janeiro com um novo trabalho de originais, o oitavo, saídos da intuição de Mike Lindsay, fundador da banda. 

Em "Love You All Over Again" mantêm-se a veia folk algo futurista que sempre envolveu os Tunng e de que o último álbum, mesmo em regime pandémico, era esclarecedor. É, pois, nessa fusão de géneros de receita antiga que está assente uma variedade feliz e moderna mesmo que, de propósito, se tenha reavivado a memória sonora na validade dois primeiros álbuns. Fecha-se, assim, um círculo, mantêm-se a energia rotativa. Tunng(a)!



PETER BRODERICK plays ARTHUR RUSSELL, Auditório de Serralves, Porto, 30 de Novembro de 2024

Passaram mais de seis anos sobre uma aparição de Peter Broderick por Espinho onde, surpresa, tocou a solo dois temas de Arthur Russell (1951-1992), na altura, uma recente descoberta que se traduziu em paixão eterna quando lhe foi dada a possibilidade de vasculhar e restaurar, no ano anterior, os arquivos sonoros do músico vanguardista norte-americano. No mesmo ano saiu um álbum inteiro de versões, feito com a ajuda de amigos e cúmplices, a prova inequívoca de que o envolvimento se iria esticar a outros projectos e de que é exemplar o mais recente "Give It To The Sky", onde explora com um conjunto de cordas uma épica peça minimalista. 

Um concerto inteiro com a reprodução dessas variações era a inédita proposta de museu portuense, o que levou ao seu auditório uma alargada e quase esgotada plateia imbuída de curiosidade suficiente para o teste. A prova, que estava acordada desde 2020 mas que demorou quatro anos a ser marcada em definitivo, foi superada com distinção e aprovação, ou não fossem os dotes deste multi-instrumentista de um nível e classes superiores, uma capacidade há muito comprovada em nome próprio pela destreza no piano, violino, guitarra ou em acessórios digitais seleccionados a preceito. 

Em forma robusta, Broderick teve também na voz um indispensável amparo de adaptação perfeita à variedade de estilos que Russell percorreu e imprimiu às suas canções, do folk à new wave, passando até pelo disco. Desse caldeirão de estilos e segmentos, que tanto surpreendem pela beleza ao piano da balada "You Are My Love", pela veia folk-country de "Close My Eyes" ou no mistério-pop de "Losing My Taste For The Nightlife", emergiu uma vibração contínua e sem embaraços, resultado de uma repetida prática em que Broderick as deu, milagrosamente, a ouvir.  

A partilha, que teve em Serralves uma última oportunidade de fruição completa, prolongada desde 2017 num mergulho contínuo, será, pois, motivo inspirativo mais que superlativo para, na certa, acrescentar ao seu já notável songbook mais uma série de temas e composições de que vamos ficar, com entusiasmo, à espera. E, não, não será preciso esperar durante quatro anos... 

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

DUETOS IMPROVÁVEIS #298

PARCELS & MARO 
Leaveyourlove (Parcels/Maro)
EP "Leaveyourlove", Because Music,
Inglaterra, Novembro de 2024

TV ON THE RADIO DE SECRETÁRIA!

KEVIN MORBY & ENSEMBLE DA ESCOLA PROFISSIONAL DE MÚSICA DE ESPINHO, Auditório de Espinho, 24 de Novembro de 2024

A relação de Kevin Morby com o nosso país é, manifestamente, uma benção. Desde há muito, Morby fez de Portugal fonte de inspiração e sucesso ao lado de companheiros de banda ou (quase) sozinho em palcos de Lisboa, Braga, Porto e Espinho, cidade onde há oito anos pegou fogo ao auditório da academia musical. Merecia, por isso, que fosse a Costa Verde a duplicar (Domingo e Segunda-feira) uma série de seis concertos que percorreu o país de Faro até Viseu em parceria com a Escola Profissional de Música, permitindo uma abordagem inédita e cativante às suas canções. 

A versão orquestral nunca experimentada pelo artista e, por isso, sem precedentes comparativos, demonstrou ser uma agradável e estrelar variação que só um conjunto de cordas permite engrandecer numa harmonia plural e que até se pode, primeiro, estranhar, mas que depois se embrenhou, naturalmente e saltitante, na perfeição. 

A experiência sonora teve no ensemble da escola um contributo notável, certamente, motivador e compensador para os seus jovens músicos, confirmando que isto do rock ou do erudito quando se cruzam tanto nos levam, livres e bem alto, em viagens de planador ("Drunk and on a Star" ou "Five Easy Pieces") ou carrossel ("This Is A Photograph" ou "I Have Been to the Mountain").

Morby desfiou, a solo, uma outra série de clássicos ("Sundowner", "Piss River" ou "Beautiful Strangers"), mas torna-se obrigatório nomear a versão de "Texas When You Go" de John Callahan, momento já no encore de magia inesperada, quando o tema foi (bem) interrompido, perante a gargalhada geral, por género de suspiro de menino ou menina, talvez, entediado ou a acordar de um sono... Na mouche e a que Morby não resistiu na aprovação e inevitável riso! 

Ainda haveria tempo, todavia, para uma nova canção ("Natural Disaster"?) e para a imbatível "Harlem River", como sempre, poderosa e, ali, rejuvenescida numa motricidade tão límpida e distinta que só foi pena não se ter alongado ainda mais uns bons e extraordinários minutos. Não se pode ter tudo, mas o que nos foi dado a ouvir e sentir já foi muito, delicioso e de excelência! 

terça-feira, 26 de novembro de 2024

VASHTI BUNYAN, ELA CUIDA DE NÓS!


















Em 1970 a jovem inglesa Vashti Bunyan gravou "Just Another Diamond Day", disco de estreia que se tornaria mítico, mas só a longuíssimo prazo. Classificado, então, como infantil e de "fraca voz", foi preciso esperar pelo ano 2000 para que ele fosse reeditado e redescoberto, ganhando rapidamente estatuto de culto e veneração, levando a artista a regressar à musica que tinha abandonado durante trinta anos! 

Entusiasmada, Vashti dedicou-se a compor novas canções que acabaram em "Lookaftering", um segundo e milagroso álbum recebido de braços abertos em 2005 por uma legião de jovens admiradores, e que agora se comemora com a edição de um versão expansiva que traz a inclusão de uma série de dez demos dos temas e uma versão ao vivo de um deles ("Lately") obtido num concerto de "regresso" em Los Angeles no ano seguinte. Cabe ainda no embrulho um livro com uma série de fotografias e de palavras da própria, do produtor Max Richter e de devotos fãs como Devendra Banhart e do editor Dave Howell, a que se acrescenta uma pequena colecção de pinturas de Whyn Lewis, filha de Bunyan. 

As demos foram registadas em casa no período de 2000-2005 com a ajuda de uma guitarra acústica e de uma outra eléctrica, experimentando no sintetizador uma série de instrumentos como o acordeão ou o piano. As notas que a artista fez a cada um deles e da transformação que sofreram até à versão final, onde colaboraram, orgulhosos, o já referido Banhart, Johanna Newson, Robert Kirby e músicos dos Vetiver, permitem concluir do ambiente familiar então criado, uma comunidade excepcional que envolveu o projecto de uma subtileza e preciosidade únicas. 

O lançamento previsto para Fevereiro de 2005 desta maravilha pela FatCat antecipa os oitenta anos de Vashti Bunyan que se comemoram no mês seguinte, mantendo-se o lindíssimo design de Dave Thomas, um senhor-artista que trabalhou a imagem de capa do disco e ainda do seguinte, "Heartleap", saído em 2014. 


segunda-feira, 25 de novembro de 2024

FAROL #156















Em dia de memória-vida e confirmando que a música de Nick Drake não tem fronteiras nem idade, aqui fica o caminho para uma colectânea antiga e gratuita de versões com reduto em Istambul, Turquia, que merece atenção, audição e fruição. Teşekkürler!

NICK DRAKE, GÉNIO QUE DÁ VIDA!
















Não temos por hábito nem por agrado assinalar dias funestos de morte, mas a que aconteceu há cinquenta anos no dia de hoje haveria de, involuntariamente, fazer parte de muitas vidas, da nossa vida - desaparecia Nick Drake, 26 anos de idade, um génio quase incógnito que o mundo da música demorou a conhecer, reconhecer e venerar. 

São já várias as homenagens prestadas pela imprensa, quer em inglês ou espanhol e até em português, todas elogiosas e sinceras, todas, ainda e sempre, tardias. Imaginar, por isso, o que seria Nick Drake vivo nos nossos dias é de uma angústia infindável. Bastaria, contudo, esta única canção para o perpetuar e amar. Obrigado, amigo, pela semente de vida!   

sábado, 23 de novembro de 2024

LEGO, É TÃO GIRO!

















Com o regresso da maluqueira, sem idades, da LEGO e depois de um gramofone ou de propostas incríveis para o fabrico de um Technics 1200 MK2, a marca dinamarquesa irá lançar durante o fim de semana da sexta feira negra uma versão oficial e retro de um gira-discos

Destinada a miúdos com doze ou mais anos, a novidade está fazer furor não na miudagem, mas, claro, numa certa comunidade cota de nostálgicos e apanhados desde sempre pela marca mítica de brinquedos de montar e desmontar. A coisa está a aquecer ou não estivesse o acesso de aquisição rodeado de muitas dúvidas, embora se forem uns tais de Lego Insiders e gastarem acima de 250 dólares, o gira-discos é vosso! 

Mesmo assim, não se deixem enganar pela fotografia de acima, já que o tamanho da peça parece que é mesmo minorca. Para gastar esse dinheiro, será sempre melhor comprar um mesmo a sério, daqueles que tocam discos de vinil... como este!

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

DANIEL KNOX, SOCORRO TARDIO!

Foto: Município de Setubal
















Está marcada para amanhã, dia 22 de Novembro, uma sessão de final de tarde na loja portuense Socorro que terá o amigo Daniel Knox como artista anfitrião a partir das 18h45. Uma hora depois é a vez do duo francês SuperBravo. Pormenores aqui.

MARK EITZEL, EM ABRIL CORDAS MIL!















Dez anos após a passagem por Espinho, repetida três anos depois, ambas com uma banda de apoio, o regresso de Mark Eitzel acontece já no dia 4 de Abril de 2025, sexta-feira, ao Auditório de Espinho na companhia de um octeto de cordas da respectiva Escola Profissional de Música e do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Braga. 

Estão também agendados espectáculos idênticos para a Culturgest de Lisboa (2 de Abril) e Theatro Circo de Braga (5 de Abril).  Eia... e a "coisa" deverá soar, maravilhosamente, como algo parecido com isto:

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

THE MAGNETIC FIELDS DE SECRETÁRIA!

SCOTT MATTHEWS, Sala do Capítulo, Museu de Leiria, 17 de Novembro de 2024

Aproveitando a comemoração dos cento e sete anos do Museu de Leiria, abriu-se a porta da Sala do Capítulo do antigo Convento de Santo Agostinho a Scott Matthews, não para uma assembleia de condomínio do extinto mosteiro, mas para um reencontro de amigos, de novos amigos ou de simples e curiosos ouvintes. O convívio, como é frequente sempre que o inglês regressa, haveria de mostra-se abundante em boa disposição e partilha de habilidades, revalidando a linhagem de um conjunto de canções singulares. 

Sem novo álbum e, aparentemente, sem novos temas, o percurso de final de tarde fez-se de um apanhado de doze das muitas pérolas que Matthews vem gravando desde 2006 e que se encontram dispersas em sete discos de originais. O tempo tratou de as fazer ramificar num tronco comum que tem na distinção da composição um caso inexplicável de subestimação a merecer estudo e que faz, continuamente, com que as canções sejam motivo de adoração para os muitos que nunca as tinham escutado. 

Em dois momentos, Matthews escolheu deixar o palco para, sem amplificação, pôr à prova esses atributos de encantador e logo em algum do seu melhor cancioneiro - "Home & Dry" e "Elusive", lado a lado com o público surpreendido, tiveram nas paredes quinhentistas um eco e um retorno de absoluta perfeição e de que talvez se acabe por obter cópia audível em (novo?) disco ao vivo. 

De Vila Real de Santo António, à Guarda ou Portalegre, passando por Arcos de Valdevez, Ponte de Lima ou São João da Madeira, há que continuar a insistir em levar esta música e esta dádiva ao país inteiro, confirmando a fortuna que constitui a proximidade e a cumplicidade que se obtém e multiplica pela sua simples escuta e fruição. Não há, pois, desculpa para que estas visitas não sejam programadas num género de camaradagem anual, com ou sem microfones, com ou sem feeddbacks, com ou sem guitarras emprestadas, com ou sem reclamações de falhas nos alinhamentos (já agora, faltou o "Wait in The Car"). 

Cá te esperamos, Scott, de braços abertos nem que seja só para te congratular mais uma vez ou cantar os parabéns cinquentenários que se aproximam!

ADRIANNE LENKER, EXTRA EXTRA!





















Para o longo mas fascinante disco "Bright Future" de Adrianne Lenker gravaram-se outras canções que, mesmo assim, não couberam na selecção. A moda japonesa de continuar a incluir "Bonus Tracks" nas edições levou a que o tema "Once A Bunch" só aí se pudesse descobrir como acrescento feliz, embora desde 2021 fosse possível escutá-lo em muitos dos concertos da artista e via youtube desde Agosto último. Prometida ficou a sua edição em 7" de vinil que agora se confirma em exclusivo em lojas físicas, ditas independentes, a partir do dia 22 de Novembro e que acrescenta no lado B um outro inédito chamado "Who Can Say". 

A tradição que os Big Thief não esqueceram mantêm-se, assim, activa e, no nosso caso, de adesão obrigatória, o que poderá ser concretizado no Porto na loja Louie Louie, uma das que aderiu em boa hora à campanha.

terça-feira, 19 de novembro de 2024

THE DELINES, SORTE E RUÍNA!





















A cada anúncio de um disco novo dos The Delines junta-se um impulso na procura de certezas se haverá, por milagre, datas portuguesas para o promover ao vivo. O de hoje, infelizmente, deixa de fora toda a península ibérica, mas valha-nos em saber que "Mr. Luck & Ms Doom" promete ser mais um caso de nostalgia moderna de trepidação repetida que se deverá manter irresistível. 

Romântico, mas não trôpego, ainda nos sobra fôlego para mais uma porção de cinematografia sonora que envolve, desta vez, a história de Mr. Luck, um criminoso fracassado e Ms. Doom, uma empregada de limpeza depressiva, parelha apaixonada mas em fuga e confronto contínuos e de que o primeiro single "Left Hook Like Frazier" é modelar. 

O registo dos temas decorreu no Bocce Studios de Vancouver, Washington, ao longo de 2023 e 2024 com a ajuda imprescindível de John Morgab Askew, um conjunto que se assume como o mais comercial que a banda gravou até à data. Ummmm... em Fevereiro tiram-se todas as dúvidas, mas há já pré-encomendas limitadas.

ANGEL OLSEN, ONDAS CÓSMICAS!














Em 2010, Angel Olsen gravou uma canção a que deu o título de "Some Things Cosmic" incluída no EP "Strange Cacti", a estreia em formato disco na editora Bathetic Records. Quando dicidiu ter a sua própria editora, mesmo que integrada na maior Jagjaguwar, foi esse o nome que escolheu para, sem pressão, dar largueza e flexibilidade a projectos de curadoria própria. 

Uma primeira dessas liberdades foi o EP de versões eighties "Aisles" saído de surpresa em 2020 e uma segunda ganhará em breve visibilidade definitiva - "Cosmic Waves Volume 1", um género de compilação imaginada por Olsen e que coloca em diálogo canções originais de artistas algo obscuros, a saber, Poppy Jean Crawford, Coffin Prick, Sarah Grace White, Camp Saint Helen e Maxim Ludwig, e versões de Olsen para algumas delas. Dia 6 de Dezembro, data de edição do disco, há concerto marcado para o In The Meantime de Los Angeles com a presença de alguns deles e de outros convidados. 

Como primeiro vaga cósmica pode ouvir-se "Glamorous" de Poppy Jean Crawford e uma versão de "The Takeover", tema de Crawford a que Olsen reduziu na acústica mas que fez crescer no mistério.


BRANDEE YOUNGER, Auditório de Espinho, 16 de Novembro de 2024

Na história do jazz, a harpa acumula uma tradição singular e, muitas vezes, exclusiva que tem nos nomes de Alice Coltrane ou Dorothy Ashby uma impressionante tradição e misticismo. Para qualquer aspirante a fazer desse instrumento antigo um recurso musical de eleição, essas são referências obrigatórias que, no feminino, ganham rapidamente um enlevo mágico e de que Amanda Whiting ou Brandee Younger são dois dos melhores exemplos contemporâneos. O serão de sábado passado não deixou dúvidas quanto ao encanto desse património e da sua sustentabilidade vindoura. 

Com a ajuda, e que ajuda, de Rashaan Carter no baixo e contrabaixo e de Allan Mednard na bateria, Younger fez do alinhamento uma homenagem a esse legado com uma versão de "Blue Nile" de Coltrane (uma recente história levou Younger a ter a primazia de manejar a harpa restaurada da artista) e uma outra de "If It's Magical" de Stevie Wonder, tema onde brilhará eternamente o arranjo que Ashby criou para a melodia e lírica de Wonder. Tocante. 

Entre originais ("Unrest" ou "Spirit U Will), flutuaram ondulantes, quer no início, a meio e no final, três peças inéditas, recentes composições de subtil acento, mas que se fortaleceram numa fusão clássica e inebriante de bateria e baixo. A aposta faz adivinhar uma delicadeza talvez mais depurada que um próximo álbum acabará por, possivelmente, confirmar e que nunca, afinal, deixou de existir disfarçada nos mais recentes discos. 

A versão de Marvin Gaye ("I Want You") com que regressou para o único encore foi só mais uma dádiva inesperada, embrulhada de elegância e vibração, de um serão reconfortante que, como alguém traduziu entre fortes aplausos, se pode resumir a um bom adágio português - o que é bom passa depressa!

(Actualização, 7 Dezembro 2024: video removido a pedido da artista) 

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

CRISTINA BRANCO NO ARTE!

Contrariamente ao pobrezinho registo no CCB já emitido pela RTP2, está agora disponível um recente (8 de Novembro) concerto de Cristina Branco no Festival de Jazz de Leverkusen, Alemanha, feito pelo indispensável Canal Arte. Realização sóbria, luminal e exemplar. Quem sabe, ...

NUBYA GARCIA NA CASA!





















Para os mais distraídos, onde nos incluímos, vimos lembrar o concerto imperdível de Nubya Garcia marcado para 9 de Fevereiro próxima na sala mais pequena da Casa da Música. O disco "Odyssey" editado este ano e por nós previsto como sublime, merece toda e qualquer confirmação presencial, certamente, majestosa e calorosa. Bilhetes!

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

DEVENDRA BANHART, DESENHOS EM SERRALVES!















Não, não é um concerto de Devendra Banhart no museu portuense, mas sim, e pela a primeira vez em Portugal, uma exposição dos seus desenhos e alguns excertos de poemas a que se chamou "Offering Cloud of Scattered Genitalia". A abertura está prevista para dia 21 de Novembro, quinta-feira, e a mostra integra o ciclo "Projectos Contemporâneos". A curadoria é de Philippe Vergne, actual director do museu. Para ver até dia 18 de Maio de 2025.  

"Devendra não só pinta ou desenha a maior parte das capas dos seus álbuns (a do álbum What We Will Be, de 2010, foi nomeada para um Grammy), como participa em projetos artísticos, como a instalação vídeo de grande escala de Doug Aitken Song 1, na fachada do Hirschhorn Museum, em Washington, D.C., e a instalação de som Refuge no Getty Museum, em Los Angeles. A fusão entre a música e as artes visuais foi apresentada em instituições tão prestigiadas quanto o MoMA em Nova Iorque, o MoCA em Los Angeles, o Hammer Museum, LACMA, e numa performance na sala Cy Twombly no Broad Museum, em Los Angeles.

Quanto a nova música, há cerca de um mês e meio foi divulgado "The Rose", tema inédito resultante das sessões de gravação do mais recente "The Flying Wig", ábum editado há cerca de um ano. A canção de sete minutos foi também produzida por Cate Le Bon, sendo inspirada em "Night Shift" (1985) dos The Commodores! A imagem do video é uma das muitas pinturas que Banhart vai realizando...

THE BEATLES NA AMÉRICA!

A 7 de Fevereiro de 1964 os The Beatles chegaram pela primeira vez a Nova Iorque, E.U.A., e o mundo parece ter começado a rodar mais depressa. Martin Scorcese como produtor, David Tedeschi como director, fizeram um novo filme chamado "The Beatles 64", que estreia no canal Disneyplus dia 29 de Novembro, e está cheio de sequências inéditas dessa "maluqueira", entrevistas recentes e os habituais melhoramentos e restauros qualitativos. Mais do mesmo, mas, ainda e sempre, atraente...



Para fanáticos invertebrados, há agora também uma pequena introdução visual ao porquê da edição dos álbuns dos The Beatles em formato mono na América, motivo para mais uma luxuosa e massiva caixa já em pré-encomenda. Mais do mesmo, mas, ainda e sempre, caro...

DURAND JONES DE SECRETÁRIA!

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

JULIA HOLTER, NOVA CANÇÃO!

Uma nova canção da inconfundível Julia Holter foi lançada no dia de ontem - “The Laugh Is in the Eyes” cresceu a partir de uma demo do mais recente disco "Something in the Room She Moves" lançado em Março passado. A instrumentação provêm dos mesmos músicos, mas a produção e arranjos couberam totalmente a Holter no seu estúdio caseiro e no 64 Sound de Los Angeles. O título é parte da letra do excelente single "Spinning", o primeiro dos temas desse disco a ser conhecido. 

Julia Holter regressa a Portugal para um concerto no Domingo, 17 de Novembro (17h00), no âmbito do Festival Para Gente Sentada que ocupa o Theatro Circo de Braga. Ainda há bilhetes.

JONATHAN WILSON E MILTON NASCIMENTO, DUPLA SOLAR!





















Aquando de uma digressão, como guitarrista, de Roger Waters pelo Brasil em 2023, o californiano Jonathan Wilson não perdeu tempo em juntar-se, na primeira oportunidade, a Milton Nascimento, visitando a sua casa de Minas Gerais e aprontando-se para se "enturmar" nas canções.

Do encontro, fez-se o registo soalheiro de três, a saber: "Tema dos Deuses" versão do original do álbum "Milagre dos Peixes" (1973); "Lília", outra versão de Nascimento em parceira com Lô Borges incluída em "Clube de Esquina" (1972); "The Valley of the Silver Noon", tema inédito composto por Wilson na ocasião. O suposto EP chama-se "Moon Over Minas", mas ainda sem indicações de uma edição física.

Trata-se da segunda colaboração de Milton Nascimento com músicos norte-americanos editada no mesmo ano, depois de em Agosto passado ter saído "Milton + esperanza", álbum de dezasseis temas ao lado de Esperanza Spalding que mistura originais e versões de canções de Nascimento ("Morro Vermelho" ou Cais", por exemplo) e onde colaboram ainda Paul Simon, Lianne La Havas, Tim Bernardes ou Carolina Shorter.